30.9.07

A velha desconhecida


Esse texto é uma retribuição a uma cidade que me encantou. Durante o Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação estive em São Cristóvão, cidade histórica de Sergipe, a primeira capital do estado e uma das cidades mais antigas do Brasil. Fundada em 1950 por Cristóvão de Barros, hoje a cidade tem aproximadamente 80 mil habitantes, fica a quase 25 km da capital e é tombada pelo patrimônio histórico nacional desde 1939. Mas, afinal o que São Cristóvão tem de especial?

A cidade foi erguida segundo o modelo português: cidade alta para o poder civil e religioso, e cidade baixa para o porto, as fábricas e a população de baixa renda, ela mantém até hoje suas construções de estilo barroco. O encanto causado não estão nesses detalhes físicos e arquitetônicos. O povo da cidade, esse sim merece o mérito. O cenário, lógico, ajuda e muito. A rápida passagem me fez perceber que a pequena cidade guarda os sentimentos mais puros nas suas ruas e becos, nos casarões e nas igrejas. A parcinha simples e cheia de vida (e verde) é espaço para senhores e crianças descansar e brincar a sombra. As pequenas calçadas são convites para caminhar no meio da rua deixando a liberdade te guiar. A quitanda de doces nos convence a voltar às lembranças, tão doces quanto, da nossa eterna infância. Antes de conhecê-la, não imaginava que estava indo para um canto tão rico do Nordeste brasileiro.

São Cristóvão guarda um fantástico patrimônio de arte sacra, considerado a terceira mais importante coleção do Brasil em número e qualidade de peças expostas no Museu de Arte Sacra, instalado no
antigo Palácio Provincial, na Praça São Francisco. Entre as construções destaca-se a Santa Casa da Misericórdia, belo conjunto barroco construído no século XVII e a Igreja e o Convento São Francisco, que datam de 1693. O conjunto arquitetônico dessa praça está prestes a ser declarado patrimônio histórico da humanidade, e merece!

A cidade é onde também acontece uma linda celebração do catolicismo, a festa do Senhor dos Passos, e ainda um festival de seresta que reune artistas do país inteiro. São Cristóvão tem uma certa afinidade com a Bahia, é onde está o
Convento da Ordem Terceira do Carmo, onde estudou a Irmã Dulce. Não posso deixar de citar o quanto bem me faz as belezas naturais da cidade. Um rio ao fundo, e visto ao longe, pareceu lavar minha alma e os ventos das folhas e árvores enxugaram meu corpo, me abençoaram e me fizeram ter a certeza de que qualquer dia irei retornar.

São Cristóvão guarda um pedaço da história do Brasil, concentra riquezas naturais e arquitetônicas, é um verdadeiro santuário do catolicismo e de intensas manifestações culturais e folclóricas. A exploração do turismo é possível (e necessária para desenvolvimento da sua economia) na cidade que ainda oferece mão de obra à capital. A população reconhece a potencialidade e já faz de tudo para isso se realizar, falta compromisso e boa vontade dos órgãos federais, estaduais e municipais, responsáveis pela restauração e manutenção do seu patrimônio. Por enquanto, a velha capital ainda clama.

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