18.11.07

Ditadura escancarada


“A tortura é tão horrível que é melhor nem falar dela.” Essa frase é parte de um dos diálogos do filme Batismo de Sangue, do diretor Helvécio Ratton, lançado em 2006 e baseado no livro homônimo de frei Betto. A história retrata um fato pouco conhecido: o envolvimento de frades dominicanos com a luta armada no final da década de 60 no Brasil.


Nessa época, a igreja era a única instituição brasileira sem o controle estatal militar. Movidos por utopias, ideais e fé, Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Ivo (Odilon Esteves), Fernando (Léo Quintão) e Oswaldo (Ângelo Antônio) conciliaram o convento com a luta contra a ditadura e apoiaram a Ação Libertadora Nacional (ANL) liderada por Carlos Marighella (Marku Ribas). Como os demais perseguidos pelo regime, foram presos, enfrentando severas seções de tortura sob o comando do delegado Fleury (Cassio Gabus Mendes). Por meio deles, o mecanismo de contato de Marighella é descoberto, e os militares fazem uma emboscada para matá-lo.


O filme é um olhar diferente sobre esse momento histórico. “Decidi filmar Batismo de Sangue com alto grau de realismo, para mostrar toda a intensidade dramática e física daqueles acontecimentos”, diz o diretor. “Quando li o livro, percebi logo que aquela era uma história para ser contada no cinema”, acrescenta.


A guerra em nome do povo, assumida pelos dominicanos, custou a vida do frei Tito, que, mesmo exilado, acreditava ser perseguido e vigiado a cada instante e resolve com o suicídio acabar com esse martírio. O filme se desenvolve para desconstruir esse gesto, portanto, as cenas de tortura não aparecem apenas de forma ilustrativa, são partes da estrutura dramática do filme. Para frei Betto, nenhum filme foi mais profundo na questão da ditadura como Batismo: “se o nosso governo não está abrindo os arquivos da ditadura, a arte o faz”.


Para reconstruir os fatos e o contexto detalhadamente, a produção encontrou dificuldades para conseguir depoimentos sobre a época. Porém, tanto o ambiente estudantil, como a sociedade que viu o homem pisar na lua pela primeira vez e que vibrava pelo milésimo gol do Pelé, foram retratados cuidadosamente, para, principalmente, alcançar o pretendido tom de verdade, sem caricaturas ou omissões.


“Se o filme servir para chamar a atenção das gerações mais novas para a importância da mobilização coletiva por um ideal, já ficarei satisfeito”, revela Ratton. Batismo de Sangue foi premiado no Festival de Brasília de 2006, como Melhor Fotografia e Melhor Diretor, e no Festival de Cuiabá do mesmo ano, como Melhor Trilha Sonora e também Melhor Fotografia.


Informações

Batismo de Sangue (BR/FR, 2006, Ficção, 110min)

Direção: Helvécio Ratton / Roteiro: Dani Patarra e Helvécio Ratton

Elenco: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cassio Gabus Mendes, Ângelo Antonio, Léo Quintão e Odilon Esteves


Em exibição, hoje, às 20h, no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, na Mostra Cinema Conquista, com presença do ator Odilon Esteves

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