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Dia Mundial do Rock: Rita Lee em entrevista


Entrevista exclusiva para a central rock no dia 07 de setembro de 2006

Rita Lee é considerada a rainha do rock nacional. Com mais de 400 músicas lançadas, distribuídas em mais de 30 álbuns, ela já tem mais de 40 anos de estrada. Aqui Rita Lee nos conta um pouquinho desta trajetória interminável.

Central Rock: Mais de 40 anos de estrada. Como você analisa a Rita Lee de hoje?
Rita Lee: Tenho a impressão de que estou mais serena. As situações que costumavam me irritar agora viram motivo para o meu auto-conhecimento. Conheço gente que se queixa da velhice. Entendo isso, mas eu estou achando uma delícia e não me incomoda muito quando o corpo reclama mais do que o de costume. Faço menos shows, mas o prazer é o mesmo. É um privilégio para poucos estar há 40 anos na estrada, trabalhando com música e ainda sobreviver dela.

Central Rock: Em 2003 você lançou Balacobaco, um grande sucesso, com canções marcantes. Um dos destaques do álbum é Amor e Sexo, parceria sua com Roberto de Carvalho, e o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor. Como foi fazer este CD? E a parceria com o Arnaldo? Como rolou?
Rita Lee: Sempre leio as colunas do Jabor e várias me inspiram a copidescar no formato de uma letra de música. Em uma delas, ele havia escrito sobre as diferenças e “parecências” entre o amor e o sexo. Eu apenas garimpei. Coloquei umas rimas e montei o refrão. Jabor é um grande letrista e tenho o prazer de dizer que ele descabaçou comigo.

Central Rock: No mesmo CD, Balacobaco, encontramos Tudo Vira Bosta. Por que escolheu fazer essa releitura do Moacyr Franco?
Rita Lee: Moacyr, entre seus vários talentos, é um roqueiro de mão cheia. Quando ele me mandou a demo de Tudo Vira Bosta eu tive uma surpresa com a graça da letra e uma levada meio Lou Reed no canto.

Central Rock: Em 2004 você lançou MTV ao Vivo Rita Lee (CD e DVD) com participações ilustres. Como surgiu a idéia de gravar ao vivo?
Rita Lee: A MTV volta e meia oferece formatos diferentes para os artistas. Já havia feito o Acústico que era mais comportadinho, depois veio o convite para o Ao Vivo. É só eles me convidarem que eu topo todas. Trata-se de uma rapaziada porreta.

Central Rock: Você já lançou mais de trinta álbuns. Existe algum que você não lançaria hoje?
Rita Lee: Não tenho arrependimentos nesta área e nunca sofri pressão de gravadora alguma, mesmo porque depois que lanço um disco eu nunca mais o escuto.

Central Rock: Agora vamos fazer uma viagem ao passado. Você fez parte dos Mutantes de 1968 a 1972. Quais são as principais lembranças daquela época?
Rita Lee: As melhores, sem dúvida, são do tempo em que participamos do Tropicalismo.

Central Rock: Por que deixou os Mutantes no auge do sucesso?
Rita Lee: Porque os rapazes estavam dando preferência à música progressiva tipo Yes, Emerson Lake & Palmer e eu não concordei em ficar copiando os gringos e puxei meu carro. Parece que para eles não deu muito certo. Mas para mim foi ótimo.

Central Rock: Você tem contato com os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista?
Rita Lee: Nenhum.

Central Rock: Por que você não está participando deste revival com os Mutantes?
Rita Lee: Nunca fui muito chegada a revivals. Até desconfio deles. Parece um bando de velhinhos espertos tentando descolar grana para pagar seus geriatras. Tô fora!

Central Rock: O que achou da Zélia Duncan nos vocais da banda Mutantes. Eles fizeram uma boa escolha?
Rita Lee: Zelia é uma cantora com carreira sólida. Fizeram uma ótima escolha.

Central Rock: Existe a possibilidade de você voltar, nem que seja para uma única apresentação? Sem dúvida entraria para historia da música brasileira.
Rita Lee: Posso lhe assegurar que nesta encarnação eu já tive minha cota de Mutantes. E acho que já entraram para a história há muito tempo.

Central Rock: E o Tutti Frutti. Por que a banda acabou?
Rita Lee: Em bandas de rock os egos volta e meia se atracam. É um clichê roqueiro puxar o tapete do outro.

Central Rock: Em 1991, você lançou o Bossa´n´roll. Você se vê como a precursora do hoje tão badalado formato “acústico”? Como surgiu a idéia do formato banquinho já que naquela época não era tão comum este formato entre roqueiros?
Rita Lee: Eu andava meio de saco cheio das “eletronicidades” todas e parti para o banquinho e violão transformando o que era rock em bossa nova. Na época as pessoas acharam que eu estava louca, até virar moda. Os fãs mais radicais odiaram. Mas como ex-tropicalista me sinto livre para desfilar sem pudores em quaisquer avenidas musicais.

Central Rock: Em 2001 você lançou um álbum com releituras dos Beatles contendo 14 faixas, sendo três versões em português. Você se considera uma beatlemaniaca?
Rita Lee: Já fui bem mais fanática. Eles foram a principal fonte musical de onde bebi. Mas não tornaria a lamber a maçaneta da Apple como fiz um dia.

Central Rock: No mesmo ano (1991) você estréia na TV seu programa TVLEEZÃO, na recém inaugurada MTV. A criação foi sua ou da emissora?
Rita Lee: Fizemos 13 programas do TVLEEZÃO. O roteiro era feito a quatro mãos por mim e pelo Antônio Bivar, que havia sido meu parceiro quando fizemos o Rádio Amador, em 1986, pela rádio 89 FM de São Paulo.

Central Rock: Você é uma artista premiada. Como se sente com tanto reconhecimento? E qual é o melhor prêmio para você?
Rita Lee: Prêmios e homenagens fazem muito bem ao ego, não é mesmo? A melhor homenagem foi a peça Um homem chamado Lee, estrelada pela minha filha Preta Gil. A peça estava em cartaz no Teatro da Folha, em Higienópolis.

Central Rock: Além de cantora, você já atuou como locutora (89fm), escritora (literatura infantil), atriz (participações em filmes e novelas). Qual mais se identificou (fora a música)?
Rita Lee: Eu sou metida a besta mesmo e adoro uma aventura alternativa. Mas se for para escolher eu fico com o Rádio Amador e o TVLEEZÃO.

Central Rock: Raul Seixas foi o nosso roqueiro ousado que misturou rock com baião, xaxado e música brega. Você se identifica com o Raul? Gosta de experimentalismos musicais?
Rita Lee: Quando vi Raul pela primeira vez achei que era um ET. Lá estava ele vestido de couro dos pés à cabeça, num festival de música brasileira rebolando feito Elvis e cantando Let Me Sing. Os Mutantes perto dele viraram escoteiros.

Central Rock: Até que ponto dá para misturar o rock com outros estilos musicais?
Rita Lee: Até o ponto que você quiser.

Central Rock: Rita, o que tem a nos dizer sobre o atual contexto da política no Brasil?
Rita Lee: Não tenho nada agradável a dizer. Em matéria de Brasil meu nome é Pollyana.

Central Rock: Você é uma inimiga pública da realização dos famosos rodeios. Você tem participado de algum projeto neste sentido?
Rita Lee: Eu odeio rodeios e todos os eventos que humilham os animais publicamente. Tento usar o pouco prestígio que tenho para brecar qualquer tipo de abuso. Geralmente me desconsideram, mas continuo uma cigarra zumbindo no ouvido desse formigueiro de gananciosos.

Central Rock: Planos futuros? Já existe a previsão de um novo lançamento?
Rita Lee: Planos não faltam. Gostaria de viver mais outros 60 anos para fazer tudo o que está na cabeça.

Central Rock: Agradecemos pela sua participação. Deixe seu recado aos nossos internautas, Rita.
Rita Lee: Amigos, para vocês todos da Central Rock Comunicação eu desejo um Graal transbordando de amor!

Por Anderson Rangel

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