7.5.11

Observações urbanas 1

(ou delírios coletivos I)

Não há momento mais coletivo para a população de uma cidade de médio porte que pegar aquele buzu lotado logo cedo quando sai de casa para mais um belo dia de trabalho. Você pode ter dormido muito bem, acordou ouvindo os passarinhos, viu o céu completamente azul e um sol despertando pra iluminar seu dia. Nada disso adianta, seu dia mal começou e logo você vai se tornar a pessoa mais impaciente do mundo.

7:30 - você (e mais outras quinze pessoas) chega ao ponto mais próximo da sua casa para esperar o ônibus da linha que te deixa mais próximo do trabalho.

7:38 - o ônibus não parou no ponto porque estava cheio demais. Você vai esperar mais vinte minutos, no mínimo.

25 minutos depois, lá vem outro ônibus. Você consegue entrar - ou melhor, você consegue uma vaga entre um sovaco e a porta, que te imprensa nos degraus de acesso. O motorista está com o som ligado numa rádio que só rola arrocha.

5 minutos depois: você está há três minutos parado no trânsito e a menos de mil metros da sua casa.

No próximo ponto, um grupo de estudantes sobe fazendo bagunça, dando risadas, gritando, empurrando todo mundo, enfim, são estudantes mesmo?

15 minutos depois: o ônibus esvazia um pouco, para encher de novo. Você consegue passar pela roleta, mas, claro, fica em pé. O cobrador não tem troco e seu ponto está próximo.

Faltam duas quadras para chegar ao ponto onde você vai descer. Surge um lugar lá no fundo. Você corre e senta. Não passa um minuto e você se levanta para ceder o lugar a uma senhora.

Finalmente, chegou ao seu ponto, você puxa a cordinha, dá o sinal e o motorista não para. Você desce um ponto depois, um carro que vinha logo atrás passa pela lama próxima da calçada e te dá um belo banho. Apesar de tudo, você consegue chegar ao trabalho:

- Mais de meia hora atrasado de novo? - você ouve do seu chefe...

Bom dia e bom trabalho pra você também, chefinho! - você pensa, e só.

*Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência - ou não!