11.3.12

No palco, dois inos

O cabra sobe em um dos palcos onde pode se sentir em casa e é recebido por um auditório lotado, aplausos e muito entusiasmo. "Não encho um Maracanã, mas meu público é verdadeiro", dispara após ter iniciado sua apresentação com a canção Cantiga de Amigo. E na plateia tinha amigos (e familiares também) - alguns vieram de outras cidades, até de outros estados, de uns ele fez questão de dizer os nomes.

Xangai é baiano de Itapebi, morou em Nanuque, norte de Minas, e antes de ir morar em Lauro de Freitas, morava em Vitória da Conquista, terra de suas origens. Ele é descedente direto de João Gonçalves da Costa, um dos fundadores do Arraial da Conquista, é primo do menestrel Elomar Figueira e tem parentesco com o cineasta Glauber Rocha.

Não há dúvidas de que Conquista está no sangue do cantador. Apesar de andar sempre por aqui, sente saudades e, quando vem, se surpreende com a recepção calorosa. "Eu fico sensibilizado, não estamos isentos de sentir o gesto e a manifestação da alegria, e hoje foi muito bom", assume.

No palco, por alguns minutos foi só ele e o seu violão (presente de um amigo). Logo depois, o convidado, conhecido de muito tempo do anfitrião, veio fazer dupla. Jessier Quirino, escritor, poeta e contador de causo como ninguém. "Não tem definição para um artista como ele. Vai definir Pelé? Ele é um Pelé", elogia Xangai.


Pela primeira vez na cidade, Jessier foi apesentado pelo cantador de forma bem peculiar: "Vocês vão ficar besta com o talento desse cara. Um mago das palavras". E ele tinha razão. A plateia se divertiu com as músicas e com algumas histórias que Xangai levou para o palco, mas com as manhas (ou mugangas, como diz Xangai) do poeta paraibano, era uma risadêra atrás da outra.

Há 14 anos como artista de palco, fazendo uma espécie de "stand-up comedy matuto", o arquiteto por formação é um autodidata no mundo das letras. "Sou um observador, busco as palavras como notas musicais e as arrumo para que as pessoas se emocionem", explica. De cara limpa, ele conta histórias que fazem parte do dia-a-dia das cidades do interior nordestino e recita poesias que nos remetem ao universo sertanejo, tão bem cantado por Xangai. "Eu faço uma poesia renovada, tem um pouco de modernidade, um pouco de raiz e muitos elementos descritivos", conta o poeta.

No palco, um admirava ao outro, quando não cantavam juntos. Quirino com histórias de época de eleição, de um almoço numa fazenda, do matuto no cinema, outros causos e algumas poesias. Eugênio Avelino com versos cantados que soavam como expressões da alma sertaneja. João do Vale, Ataulfo Alves, Elomar Figueira, Waldick Soriano e o próprio Jessier Quirino (autor de Bolero de Isabel) fizeram parte do repertório. Como no cangaço, a combinação dos -inos por aqui também foi perfeita.

Um comentário:

Carlos Morenno disse...

Excelente matéria!
Parabéns Ailton Fernades!

Foi realmente um momento impar. Muito bom mesmo.

Carlos Moreno