18.4.12

Bethânia nua e crua

oásis (o.á.sis): sm sing e pl 1 Terreno fértil e coberto de vegetação no meio de um deserto. 2 Lugar ou coisa agradável no meio de outros que não o são. 3 Alívio, consolação, prazer entre muitos desgostos.

Se o dicionário me permite, podemos acrescentar que o de Maria Bethânia é o sertão. "Sertão é onde não tem nada. Não tem água. Falta tudo. É um limite que Deus coloca. Para mim, é como se fosse uma fonte, uma nascente pura. Tenho sempre que lembrar que existe esse lugar no meu país. Me bota do tamanho que eu sou. É a vida seca. É o filho de Deus, criado sem apoio, sem ajuda, sem nada. Retrata muito a coisa árida do mundo, e ao mesmo tempo o amor que o sertanejo tem por sua terra."

Assim a cantora baiana, com 47 de carreira dos seus 65 anos, explicou o título do seu 50º disco, "Oásis de Bethânia", e a capa com uma paisagem seca do sertão alagoano, foto de Gringo Cardia. Com o novo trabalho, a cantora tinha a intenção de causar estranheza. "Meu desejo era de fazer de outra maneira", declarou em entrevista.

"Eu queria que fosse tudo muito nu, só a voz e um instrumento. Se eu soubesse tocar algum, eu faria eu tocando e cantando", revelou. Para fazer sua vontade, ela convidou um arranjador para cada canção - depois de ter o Jaime Alem como arranjador por 30 anos. Junto com Jorge Helder, Bethânia assina o novo trabalho. Apesar do espírito solitário, ela saiu muito bem acompanhada. "Como o Brasil tem apresentado uma geração de extraordinários músicos, queria estar perto deles de algum modo. Como sou muito intérprete, mais do que cantora, era um sonho que não sabia se poderia realizar. Tive a alegria de eles se interessarem. E vieram lindos, amorosos. O resultado saiu como eu queria."

As dez faixas serviram para uma reunião de talentos, entre músicos e compositores, da música brasileira. "Lágrima", de Candido das Neves, foi cantada ao som do bandolim de Hamilton de Holanda. "O Velho Francisco", de Chico Buarque, foi refeita por Lenine. "Vive" é uma inédita do Djavan, que ainda toca violão. Vitor Gonçalves toca piano para que ela cante "Casablanca" e "Barulho", ambas de Roque Ferreira. Com Marcelo Costa, canta "Calmaria", do sobrinho Jota Velloso, e "Carta de Amor", de Paulo Cesar Pinheiro. "Fado", também de Roque, ela entregou para Jaime Alem, que toca viola caipira. A canção "Calúnia", de Marino Pinto e Paulo Soledane, ficou nas mãos de Maurício Carrilho. A última faixa, "Salmo", é de Rafael Rabelo em parceria com o Paulo Cesar Pinheiro, arranjada pelo André Mehmari. E, pela primeira vez, a cantora grava versos de sua autoria, recitados na faixa "Carta de Amor".

O disco está à venda no iTunes Brasil (já na pré-venda, em uma semana, conquistou o quinto lugar entre os mais vendidos, ao lado de "21" de Adele, "The Wall" do Pink Floyd e "Nothing but the beat" de David Guetta), mas ela ficou emocionada foi com o vinil que lhe entregaram durante a entrevista. "Meu Deus! Como era mais bonito! Vai sair assim também?", indagou Bethânia à diretora da gravadora Biscoito Fino, que confirmou.

O trabalho materializado, comove a cantora: "Sinto uma coisa forte porque, como artista, sou muito verdadeira, lido com coisas muito finas. Poesia, música, corda vocal, que é mais tênue que um fio de cabelo. O mundo tá grosseiro, sem classe, sem delicadeza, sem querer prestar atenção aos detalhes. Quando vejo o trabalho pronto, é sinal de que eu andei assim mesmo. É o que me conforta e me faz vaidosa. Quando penso que talvez eu fragilize e depois vejo que fiz, é um prazer."

Para nós também, Bethânia!
Obs.: a turnê do novo disco só deve começar a partir do segundo semestre.

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