2.11.11

Vitória da Conquista não tem a pior educação pública do Brasil

Antes, dois esclarecimentos: 
  • Não, eu não estou desmentindo a Veja – muito pelo contrário, estou tomando a reportagem dessa semana como base.
  • Não, isto não é uma defesa da educação pública municipal – muito pelo contrário, sei das mazelas da educação pública do Brasil, do Nordeste, da Bahia e, sobretudo, de Vitória da Conquista.
Esse texto é uma reflexão sobre o jornalismo e suas práticas cotidianas para que percebam como a seleção dos dados, a construção de infográficos, as ênfases e as exclusões de informações (des)informam os leitores e, até mesmo, outros jornalistas.

A revista Veja dessa semana (edição 2241 - capa ao lado) publicou o Especial Cidades, 35 páginas sobre riqueza e bem-estar. Ano passado também foi feito o especial, em setembro, inclusive Vitória da Conquista figurava entre as cidades com a melhor evolução do PIB entre os anos de 2002 e 2007, devido ao comércio. Aparecer na Veja no ano passado foi uma vitória para a economia da cidade - e é uma grande coisa para qualquer outra cidade interiorana. Todo mundo comemorou e divulgou (e eu não fiquei de fora, apesar de não recomendá-la como fonte de leitura pra ninguém).

Esse ano, a cidade volta a aparecer, mas não há motivos para comemorações. Como eu não tenho rabo preso com ninguém, também vou divulgar aqui (sem selecionar informações ou excluir dados importantes da nova pesquisa) como Conquista reaparece na Veja.

A cidade está sim entre as piores cidades em mortalidade infantil e é a pior em educação básica. Mas, ao contrário do que divulgou o Blog do Anderson, o Site Vitória da Conquista, o Tribuna da Conquista, o Blog da Resenha Geral, o Bahia Política, o Sudoeste Hoje e uma reportagem da TV Sudoeste exibida dia 31 de outubro, no BA TV (além de todos os outros que copiaram uma dessas “fontes” – se é que um veículo deve servir de fonte ao outro...), a cidade não é a pior do país. Como explica a própria revista, é a pior entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, excetuando as capitais.

Entre o que está sendo noticiado e alarmado por aí e o que de fato publicou a revista, a diferença é muita! O Brasil tem 5.565 cidades, mas excluindo todas as capitais mais as que têm menos de 200 mil habitantes, esse número cai para 106 – menos de 2% dos municípios brasileiros! E a Veja explica tudo isso na mesma edição (clique sobre as imagens para ampliá-las).


Ou seja, Vitória da Conquista tem a pior educação, com nota 2,9 no IDEB, entre as 106 cidades analisadas pelo levantamento da revista e é a segunda em mortalidade infantil com 23 mortes a cada 1000 nascidos vivos, também entre as 106 cidades analisadas. Bastava ler as páginas iniciais do Especial e não se limitar aos gráficos...
Clique nas imagens para ampliá-las.


CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE – Já que ter destaque na Veja é de muita relevância para a cidade, a notícia desse episódio é: Conquista saiu na Veja – só que dessa vez, mal – e apenas isso. A nota do IDEB que serviu de base para o ranqueamento da revista é “velha” (os dados são de 2009 e foram divulgados em 5 de julho de 2010 pelo Ministério da Educação) e já tinha sido divulgada quando realmente era uma novidade – um dos princípios da noticiabilidade. Não é porque saiu na Veja que merece ser requentada.

A REVISTA – Agora que a divulgação sobre a cidade pega mal para a sua imagem pelo país (quiçá, pelo mundo), surge o discurso: “mas foi na Veja, revista de extrema direita, reacionária, com denuncismo barato e ideologicamente marcada...” Mas, e no ano passado, quem criticou a revista? Vamos manter a coerência, pessoal!

A PIOR NOTA DO BRASIL – A notícia é de julho de 2010 (eu disse que era velha...), mas é melhor que saibam que, felizmente, o posto não é de Vitória da Conquista (apesar de alguns torcerem para que fosse) e que, infelizmente, existem muitas cidades piores por aí.
Clique nas imagens para ampliá-la. Fonte: G1
No entanto, se o ranqueamento for por escolas, Vitória da Conquista aparece sim entre as piores do Brasil, assim como a cidade de Cândido Sales, que teve média geral de 3,6 e ficou acima da média do estado e superou a média prevista.

Clique nas imagens para ampliá-las. Fonte: G1.
MÉDIAS – Vitória da Conquista esteve abaixo de todas as médias no IDEB de 2009. A sua média foi de 2,8, enquanto que a meta projetada pelo MEC era de 3,2. A média do estado foi 3,2 e a nacional, 3,8.

MORTALIDADE INFANTIL – A Veja não divulgou a fonte dos dados que serviram para o ranqueamento das cidades com maior e menor mortalidade infantil, mas estes se referem ao ano de 2009 – informação esta que não consta no gráfico, mas que está no texto.

Espero que os blogueiros e demais jornalistas corrijam a informação dada de forma equivocada, apesar do impacto de uma errata ser muito menor que o da notícia errada. Portanto, caros colegas, tratemos a informação com um pouco mais de responsabilidade, é o mínimo que se pode esperar de quem preza pelo jornalismo e sua função social transformadora e fundamental para a manutenção da democracia.

7 comentários:

CS disse...

"No entanto, se o ranqueamento for por escolas, Vitória da Conquista aparece sim entre as piores do Brasil, assim como a cidade de Cândido Sales, que teve média geral de 3,6 e ficou acima da média do estado e superou a média prevista."

Explica pra mim essa parte sobre Cândido Sales, ficou um pouco controversa segundo informações que constam na própria notícia que postei abaixo.

"MÉDIAS – Vitória da Conquista esteve abaixo de todas as médias no IDEB de 2009. A sua média foi de 2,8, enquanto que a meta projetada pelo MEC era de 3,2. A média do estado foi 3,2 e a nacional, 3,8."

Anônimo disse...

Concordo. Porém, isso tudo prova que o município de Vitória da Conquista tem crescido por si só e não com ajuda do governo. A cidade cresce no comércio, construção, mas no que realmente depende da Prefeitura e governo da Cidade que é a educação, saúde, transporte, dentre outros conquista está a passos de tartaruga.

Anônimo disse...

Sua música "Eu sou sou tiete do guilherme" Que n faz porcaria nenhuma por essa cidade.

Unknown disse...

Entre as piores escolas do Brasil, Conquista teve duas com nota 0,7, mas a média geral do município foi 2,9. Cândido Sales teve uma escola entre as piores do Brasil também, com média 0,8. Porém, a média do município (3,6) superou a média estadual (3,2) - o que Conquista não conseguiu...

Ivan Cordeiro disse...

3/nov/2011 . 10:52 at 10:52
No mínimo engraçado. Querer manipular os dados é uma atitude interessada em advogar para alguém. A Revista Veja foi clara e os dados são do próprio ministério da educação. No último Ideb, entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, excetuando as capitais, no caso são 106 cidades avaliadas, Vitória da Conquista tem a pior nota, isto é claro e lógico, somente quem tem bandeira pra defender, manipula dados e é manipulável. Ainda mais, Vitória da Conquista além de ter a pior nota do Ideb, tem algumas das piores escolas do Brasil. Acorda Conquista!

Ciro Brigham disse...

Caro Cordeiro, favor ler o post inteiro novamente, tentando entender do que se trata e sem a pretensão de julgar antes de terminar a leitura (ao que me parece, foi o que você fez). O Ailton não está dizendo que a Veja errou. Pelo contrário> leia o trecho: "A cidade está sim entre as piores cidades em mortalidade infantil e é a pior em educação básica. Mas, ao contrário do que divulgou o Blog do Anderson, o Site Vitória da Conquista, o Tribuna da Conquista, o Blog da Resenha Geral, o Bahia Política, o Sudoeste Hoje e uma reportagem da TV Sudoeste exibida dia 31 de outubro, no BA TV (além de todos os outros que copiaram uma dessas “fontes” – se é que um veículo deve servir de fonte ao outro...), a cidade não é a pior do país. Como explica a própria revista, é a pior entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, excetuando as capitais. Entre o que está sendo noticiado e alarmado por aí e o que de fato publicou a revista, a diferença é muita! O Brasil tem 5.565 cidades, mas excluindo todas as capitais mais as que têm menos de 200 mil habitantes, esse número cai para 106 – menos de 2% dos municípios brasileiros! E a Veja explica tudo isso na mesma edição".

O que Ailton coloca é que a manipulação e reprodução dos dados dessa reportagem foi muito mal feita por outros veículos de comunicação (regionais), não levando em consideração os recortes de amostra que a própria Veja deixou bem claros. Não se trata de "malhar" a Veja: eu sou jornalista, não gosto da revista, mas digo: a matéria está perfeita e correta. Assim como a análise do blogueiro. Errados estão os que veicularam a informação de forma incompleta (fazendo crer que partiu assim de Veja) e os que aproveitaram-se da distorção para promover o seu discurso. Se existe alguém com bandeira ou querendo advogar para ou contra alguma sigla, não me parece ser o Ailton, amigo! Um conselho: tente ser mais analítico e menos fundamentalista na sua crítica "sem bandeiras"...

Ivan Cordeiro disse...

"Entre o que está sendo noticiado e alarmado por aí e o que de fato publicou a revista, a diferença é muita!"

Não penso dessa forma, a diferença não é muita, o que existe é uma tentativa não da parte de vocês, imagino, mas da parte do governo municipal em tentar suavizar os dados do Ideb. Além do mais, não apenas entre os 106 municípios com mais de 200 mil habitantes, mas em todo o país, temos algumas das piores escolas. A situação é preocupante, e o próximo Ideb, infelizmente, vai trazer dados ainda mais desastrosos. Aguardem!