11.6.12

Messi: timidez e 'escapadas' em livro


Lionel Messi, 24, é o melhor jogador do mundo, e as comparações com Pelé e Maradona rendem longas discussões entre especialistas e torcedores fanáticos. Mas, se há um ponto em que parece haver uma unanimidade, é o de que a vida do meia-atacante carece de graça, de complexidade, de anedotas ou escândalos.

Messi namora a mesma moça desde que era garoto, ficou apavorado quando se tornou capitão da seleção porque não sabia o que dizer aos colegas no vestiário e, quando adolescente, comia sempre na última fila do refeitório da Masía (centro de formação do Barcelona) para falar o menos possível com os companheiros.

Os exemplos se acumulam. Mas, onde todos veem uma vida sem charme, o jornalista argentino Leonardo Faccio, 41, encontrou tema para um ensaio biográfico em que tenta explicar o lado humano do fenômeno e o efeito que ele causa nas pessoas.

"Messi provoca felicidade e suspense. É capaz de hipnotizar e servir de modelo sem ter que abrir a boca", afirma o autor de "Messi - El Chico que Siempre Llegaba Tarde (y Hoy Es el Primero)", lançado na Espanha e nos países da América hispânica pela editora Debate (à venda na Livraria Cultura: R$41).

O livro está dividido em três partes, escritas ao longo dos três anos em que Faccio seguiu o jogador do Barcelona. Não por acaso, são até aqui os mais vertiginosos da carreira do craque argentino, nos quais conquistou seguidamente o prêmio de melhor jogador do mundo.

A primeira parte é uma entrevista feita pelo autor, em Barcelona, em 2009. A segunda, a descrição da gravação de um comercial de chuteiras em que ele era o garoto-propaganda. A terceira, o relato da noite da entrega do prêmio de melhor do mundo da Fifa do ano passado.

Faccio entrevistou amigos, familiares, funcionários da Masía e ex-agentes, enquanto Messi vigiava seus passos por mensagens de texto. "Ele ficou sabendo de todas as entrevistas, há uma rede que o informa", declarou Faccio.

'ESCAPADAS'
A recepção do livro por parte do jogador, porém, não foi a esperada. A Fundação Messi emitiu um comunicado condenando a obra. As descrições de algumas "escapadas" de Messi com mulheres, além das declarações de dois ex-agentes com quem tem problemas judiciais, provavelmente provocaram o rechaço da família.

Um dos pequenos escândalos que conta o livro é o da prisão da "relações-públicas" Gabriela Vitale. Suspeita de ter relações com um narcotraficante, Gabriela teve seu celular confiscado. Entre as mensagens de texto, uma de Messi dizendo que ficava excitado pensando nela.

Faccio reforça que são significativos os laços com os amigos de infância e companheiros de Newell's Old Boys, seu primeiro clube. Messi só confia nas pessoas a quem conhecia antes da fama. "Dentro do campo, ele ousa, arrisca, busca a arte. Na vida pessoal, quer segurança", afirmou o escritor.

Um dos perfis mais interessantes que aparecem no livro é o de Rafael Blázquez, que conviveu com Messi por quatro anos na Masía. Os dois jogadores tinham um perfil parecido e os mesmos sonhos. Só que Messi virou Messi, e Rafael ficou no anonimato. Apesar da dedicação, não emplacou no futebol. Hoje trabalha em uma fábrica e estava em uma cadeira de rodas por conta de um acidente. Messi ainda se comunica com o colega com frequência.

"Para a cabeça desses meninos, deve ser uma coisa difícil demais de entender. Como tudo funcionou para um, e o outro levará uma vida comum como a de tantos outros?", disse Faccio. Sobre o eterno problema com a torcida argentina, que ainda resiste em aceitar Messi como um verdadeiro ídolo, Faccio afirma que se trata de uma questão cultural.

"Há um perfil de mito argentino que se repete. O daquele gênio que se torna universal, antes de ser argentino. Aconteceu com Jorge Luis Borges, com Che Guevara, com Piazzolla. E agora com Messi", completou. (Da Folha.com, em 10 de março de 2012, por Sylvia Colombo)

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