15.9.06

Além do que se vê


Eu não vou no R.U. só encher meu estômago e acabar com a minha incontrolável vontade de comer, que mesmo antes de 12h40min já me consome. Comer no R.U. é também alimentar a alma. Pode parecer exagero. Como pode alimentar a alma em um restaurante universitário? Pegando fila pra colocar a comida, pra pagar, brigando por uma mesa, comendo frio quase sempre, pagando por uma comida nem tão boa... Quem não sente essa mesma sensação que eu, talvez esteja pensando tudo isso. Mas, para quem consegue sentir alimentar a alma no R.U. sabe que essas coisas são insignificantes.

É bem mais gratificante lembrar que no R.U. vou encontrar a tia Lia, que até pouco tempo eu a chamava só de tia, nem mesmo sabia que ela se chamava Maria Vitória de Jesus Silva, um ótimo nome para uma guerreira, é isso que ela me parece ser. Pra quem não a conhece, ela é aquela senhora que ora serve o suco, ora recolhe os pratos. Pra muitos ela é só isso... Pra mim, vai mais além. Toda vez que converso com ela é como se uma mãe me falasse, mas é. Tia Lia também tem filhos, também tem casa, também tem família. Seus filhos também estudam, também trabalham. Se dedicam, se esforçam, correm atrás. Da mesma forma que tia Lia é uma batalhadora, acho que seus filhos também são. Da mesma forma que tia Lia orgulha-se do que faz, seus filhos também devem se orgulhar da mãe que tem.

Parece ser tão simples enxergar as pessoas como as vemos, mas não deveríamos, acho que é triste ser somente aquilo que parecemos ser. São muitas as vezes em que as pessoas ao nosso redor se tornam objetos ou instrumentos, mas não são. São pessoas igualzinha a qualquer um de nós. São pessoas que merecem abraços, atenção, sorrisos, ao menos um oi, ao menos um tchau. Mas, ignoramos e fazemos de conta que não existe ninguém merecedor da nossa atenção. Somos mesquinhos e egoístas com nós mesmos, pois deixamos de alimentar a nossa alma.

É assim que alimento minha alma no R.U., vendo o sorriso de tia Lia, a dedicação, a atenção que ela tem com todo mundo. E sabe o que é melhor? Sentir o prazer com que ela faz o seu trabalho. E melhor que isso, é ouvir da sua própria voz, repleta de alegria, que é maravilhoso trabalhar ali. São raras as pessoas assim. Só conheço tia Lia.

A saída de seu Julio do R.U. vai me deixar saudades, vou sentir falta do alimento para minha alma, mas não vou esquecer de como é ser verdadeiro e mais humano, tia Lia não sabe, mas ela me ensinou um pouco disso. Talvez tia Lia sinta isso. Uma mãe sente e vê o que um filho é, que um filho precisa, o que ele quer. Toda vez quando voltar ao R.U. vou sentir tia Lia, vou procurar tia Lia, porque o bandejão não é suficiente, não alimenta a alma afinal. Mas sei que vai chegar um momento em que tia Lia será substituída, a mudança do R.U. vai mudar a comida, o gosto, o riso de ti Lia, mas espero ainda conseguir alimentar minha alma no R.U., mas vou ter sempre tia Lia como referência.

Foram em coisas mínimas e em pequenos momentos, mas aprendi que tia Lia é como deveríamos ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse teu texto so me fez lembrar do ensaio fotográfico do "Oficina de Notícias",o nosso 1º jornal do 3º semestre. Me fez refletir sobre a importância até de desconhecidos em nossa vida. Também lembrei das várias vezes q fui ao R.U. alimentar a minha alma com deliciosas presença dos meus amigos...