3.2.08

Carnaval do catador


2 de fevereiro, dia de Iemanjá e sábado de carnaval. A cidade que não tem carnaval e muito menos comemorações para Iemanjá teve como atrativo o jogo do Vitória da Conquista contra o Bahia. Os torcedores desembolsaram 10 reais ou enfrentaram uma enorme fila para trocar notas fiscais por ingressos para ver o time da cidade perder dentro do seu estádio. Não sou nenhum especialista em futebol, nem pretendo. Em síntese, o jogo não teve nenhuma atuação brilhante. O 2X1 conquistado de virada deve valer maiores comentários, mas não por mim. A não ser devido a chamada camisa doze.


A torcida sempre surpreende o time. O estádio lotado e a empolgação do torcedor é o que mais me chama atenção. Dia de jogo no Lomanto Jr. certamente é o dia em que os famosos e inúmeros “babas” da cidade são cancelados. Mesmo jogando latinha para cima e recebendo mal o torcedor visitante, o clima no estádio é de quem já conquistou muito.


Famílias vão assistir ao jogo, as garotas bem arrumadas da Olívia também, assim como os ratos de academia. A arquibancada demonstra uma diversificada população conquistense. Inclusive aquela sem oportunidade. Lembra até o carnaval das desigualdades celebrado em Salvador.


O personagem que me prendeu a atenção não estava no estádio para ver o jogo. De vendedor de refrigerante, cerveja e água, ele passa a ser catador das latinhas. As voadoras armas de alumínio que tomam o céu do estádio já no fim da partida têm ganhado novos rumos com a atuação desse conquistense que busca driblar a vida.


Ainda faltavam mais de vinte minutos para o fim do jogo. O Conquista já perdia, a torcida já desanimada, a ala organizada tentando puxar o coro, as olas já não apareciam mais. Todos ainda levantavam com a esperança das bolas na área adversária, mas foram todas perdidas. Mesmo assim o agora catador continuava o mesmo cantador, com um sorriso de uma ponta a outra do rosto, arriscando passinhos e tudo. O motivo não era a vitória do Bahia, aliás, nem sei se ele sabia do placar. Na sua atuação, ele estava o tempo todo de frente para a torcida e de costas para o campo.


O estado de ânimo desse homem se deu por outro motivo. As latinhas amassadas que enchiam o saco de plástico foram o suficiente para explicar sua alegria: “só hoje já foi mais de quinze reais...


Ele podia rir mesmo, afinal ele quem saiu ganhando, independente de resultados.


Para conhecer o time do Conquista, clique aqui.

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