5.11.10

Tragédia histórica inspira filme e peça

Filme: gravação no cemitério da antiga fazenda Tamanduá

Peça: representações da viúva Lourença e do filho Calixtinho

A Tragédia do Tamanduá, sangrento combate entre famílias na região de Vitória da Conquista, ocorrido em 1895, inspirou a montagem de um filme e de uma peça teatral. Abaixo seguem entrevistas (realizadas via e-mail) com os diretores de cada obra. Sobre a Tragédia, confira matéria na próxima segunda, 08, no caderno especial do aniversário da cidade do jornal A Semana.

Entrevista com George Neri, diretor do filme “Tragédia do Tamanduá”

Por que a Tragédia do Tamanduá foi o tema escolhido para o trabalho?

Antes de começar a estudar cinema, fazer uma graduação, eu estudava agronomia. Em uma das minhas viagens técnicas, descobri o cemitério do Tamanduá, que fica próximo à cidade de Belo Campo, me interessei bastante pela arquitetura do cemitério. Perguntei a algumas pessoas sobre o que tinha acontecido ali e percebi que havia um mistério sobre o acontecido. Tempo depois ganhei de presente de um tio (Eduardo Nery) um livro sobre a Tragédia do Tamanduá, o Livro de Isnara Pereira Ivo (“O Anjo da morte contra o Santo Lenho”), quando ganhei esse livro, em 2007, eu já estudava cinema em Salvador e tive então a oportunidade de enviar um projeto para o IRDEB, que estava apoiando a produção de obras audiovisuais em forma de documentários. Então, o tema foi escolhido por haver nesse acontecimento algo que nos faz refletir sobre causas importantes. Cinema para mim, antes de ser informativo e entretenimento, é filosofia, é cinema...

Como foi o processo de pesquisa e de montagem do filme? E quais as dificuldades?

A pesquisa começou a partir da curiosidade pelo tema, pelo acaso que ele me veio. Depois, com a leitura do livro pude situar os fatos, entrevistas pessoas, grifar e separar as partes que mais me chamaram atenção e discutir o tema com os amigos que participaram do processo de pesquisa. Ao mesmo tempo, desenvolvia junto com o Coletivo Peteca (grupo de intervenção urbana que fazia parte) experiências audiovisuais e teatrais e isso ajudou bastante no processo de criação do filme, pois a intimidade com os envolvidos me dava bastante liberdade criativa, e via em cada um deles elementos afetivos e estéticos dentro do processo. Como recebi apoio do Fundo de Cultura da Bahia, as dificuldades diminuíram, tínhamos verba (não muita) para pagar profissionais da área para ajudarmos na realização do filme, veio profissionais de Salvador e São Paulo - profissionais da área que já tinham experiência com cinema. Os outros faziam parte do Coletivo Peteca e a maioria eram jovens com menos de 18 anos e com bastante talento. Recebemos apoio da fazenda Ouriçanga (ao lado do cemitério) e ficamos 15 dias filmando, tanto as cenas ficcionais, como as cenas documentais... A idéia era um processo coletivo, inicialmente com um tema e nenhum roteiro fixo. As dificuldades giraram em torno desse processo experimental, sem funções rígidas e sem roteiro. O processo de montagem durou oito meses, capturamos 13 horas de imagens para ser transformado em 26 minutos, usamos cinco câmeras, uma visão diversa sobre o mesmo tema. O interessante foi o processo, a vivência do cinema, o filme foi apenas o produto disso. As outras dificuldades giram em torno da falta de apoio cultural da cidade de Vitória da Conquista, principalmente as instâncias culturais municipais que não conseguiram perceber o movimento que estava acontecendo. Como o local onde aconteceu a tragédia hoje é o município de Belo Campo, fomos pedir esse apoio lá e fomos muito bem recebidos.

Alguma curiosidade ou descoberta que mudou os rumos do projeto?

Como não tínhamos um roteiro, já admitíamos todo tipo de interferência... O acaso nos protegia e as surpresas eram muito bem assimiladas por nós. Talvez o que tenha mudado no projeto foi justamente a idéia de que um filme experimental, como foi feito, não poderia se fixar em alguma expectativa, ou em rumo. Nossa expectativa era a experiência.

Quanto tempo levou para produzir?

A produção começou em outubro de 2008, quando escrevi o projeto para angariar fundos, e terminou em outubro de 2010.

Qual a quantidade de pessoas envolvidas?

Inicialmente o projeto previa cinco pessoas. O orçamento era para a produção de um filme documentário, contudo como foi um fato histórico que aconteceu em 1895, seria interessante ficcionalizar algumas cenas. Nossa idéia também era contextualizar a tragédia e refleti-la atualmente. Então, foi necessário conseguir apoio cultural para a manutenção de 23 pessoas durante 15 dias na fazenda Ouriçanga, fora outras pessoas que entraram no fim do processo com dicas e apoios técnicos.

Existe alguma exibição prevista na cidade?

O filme teve sua primeira e única exibição pública na Mostra Cinema Conquista, no dia 9 de outubro de 2010. Haverá um evento em Salvador, ainda esse ano, para lançamento de todos os documentários apoiados pelo edital. Depois disso pretendemos levá-lo para Belo Campo e festivais de cinema pelo Brasil e mundo afora.

Informações: tragediadotamandua.blogspot.com

Entrevista com Paulo Tiago dos Santos, diretor da peça “Tamanduá”

Por que a Tragédia do Tamanduá foi o tema escolhido para o trabalho?

Guardava há algum tempo o desejo de realizar um trabalho sobre o tema, que me fascinou.

Como foi o processo de pesquisa e de montagem do espetáculo? E quais as dificuldades?

Utilizei como referência para desenvolver o texto uma série de textos que tratam sobre o tema, de autores locais, sem nenhuma entrada no universo geográfico e social da história, nenhuma entrevista ou encontro com familiares. Os traços exteriores se tornaram supérfluos, visto que deveríamos solucionar problemas de ordens estéticas que poderiam se concatenar se observássemos melhor o exemplo que nos propúnhamos a narrar, em detrimento à sua historicidade. Sobre a montagem, estive sempre em contato com uma referência na minha formação, ao qual faço questão de comentar, o senhor Bertold Brecht, que nos oferece um cabedal de informações e meios cênicos e estéticos para a produção de um teatro narrativo que, com toda a certeza, influenciou a elaboração do projeto na perspectiva da direção.

Quanto tempo levou para produzir?

Cinco meses.

Qual a quantidade de pessoas envolvidas?

30 pessoas

A peça segue em cartaz no Espaço Atuar. Últimas apresentações nos dias 9, 12, 13 e 14 de novembro, às 20h. Ingresso: R$4 mais um quilo de alimento. Informações: estrasbuns.blogspot.com

Fotos: Vinicius Purki

Um comentário:

Anônimo disse...

Queridos. Os criditos das fotos?
Purki