Por Paulo Vinicius Coelho (ESPN)
Que o Flamengo é campeão brasileiro legítimo de 1987, é óbvio. Você sabe minha posição há muito tempo. O Flamengo é o campeão legítimo, porque até Pernambuco acompanhou o Módulo Verde, dado que o Santa Cruz estava na competição. O Sport é o campeão legal porque as finais disputadas com W.O. contra Inter e Flamengo valeram o reconhecimento da CBF. E isso não se tira.
Então, a partir do reconhecimento da CBF ao título do Flamengo, o que aconteceu nesta segunda-feira, há dois campeões na história. O ano de 1987 passa a ser como o de 1968 e tem dois vencedores.
Mas aqui o assunto é: por que a CBF decidiu reconhecer hoje, e justamente nesta segunda-feira, o título brasileiro discutido há 24 anos?
O x da questão é o racha do Clube dos 13 sobre o novo contrato de TV para o Campeonato Brasileiro.
Para que você entenda melhor o tema, divido em capítulos:
1. Está em questão a renovação do contrato dos direitos de TV do Campeonato Brasileiro e isso ameaça rachar o Clube dos 13. De um lado está o Corinthians e, supostamente, os que votaram em Kléber Leite na eleição do C13 contra Fábio Koff, ano passado -- Botafogo, Coritiba, Goiás, Corinthians, Cruzeiro, Santos, Vasco e Vitória. Como Flamengo e Corinthians sempre pediram que os dois clubes de maior torcida tivessem maior percentual no rateio dos clubes, imagina-se que o Flamengo possa ir para esse lado.
2. Pela primeira vez, o Clube dos 13 divide os direitos de TV em categorias: TV aberta (brigam Globo e Record), TV fechada (SporTV ou ESPN podem ganhar), Internet, Celular. A ideia da comissão de TV, composta por Alexandre Kalil (Atlético-MG), Maurício Assumpção (Botafogo), Luis Álvaro (Santos), é que a decisão se dê com propostas feitas em envelopes fechados. A melhor proposta será a vencedora. A ideia está atrelada ao estudo feito por Ataíde Gil Guerreiro, ex-dirigente do São Paulo e diretor-executivo do Clube dos 13.
3. Ano passado, Ricardo Teixeira tomou duas atitudes rápidas após perder a eleição do Clube dos 13 -- apoiava Kléber Leite, derrotado por Fábio Koff. A primeira foi anunciar, no dia seguinte à derrota, que o Morumbi estava fora da Copa do Mundo de 2014. A segunda foi entregar ao São Paulo a Taça das Bolinhas. Do ponto de vista político, isso significava punir o clube de Juvenal Juvêncio -- principal articulador da candidatura Fábio Koff -- com a perda da Copa e, em seguida, jogar o São Paulo contra o Flamengo.
4. Após aceitar o reconhecimento como primeiro hexacampeão brasileiro, Juvenal Juvêncio afastou-se do Clube dos 13. Em vez de aglutinação entre as forças políticas vencedoras da eleição, o Clube dos 13 viu o afastamento delas. É esse afastamento o que permite, neste momento, o entendimento de Ricardo Teixeira de que pode seduzir Patrícia Amorim a acompanhar Andrés Sanchez num suposto racha do C13. E se manter favorável à Rede Globo. A pergunta é: por que a CBF tem tanto interesse em que a Rede Globo ganhe a concorrência?
5. Ninguém no C13 tem exata noção de que papel Patrícia Amorim exercerá na eleição a partir de agora. Ela pode ser cooptada pelo pequeno presente de Ricardo Teixeira -- ano passado, o Botafogo recebeu empréstimo de R$ 8 milhões e, por isso ou por outra razão, votou em Kléber Leite. O fato é que o empréstimo foi concedido próximo à data da eleição. Casos como esse é que permitem a impressão de que pode estar havendo troca de favores. Mais do que isso, produzem a certeza de que a tentativa da CBF é de trocar favores. Cabe ao Flamengo aceitar o presente, não trocar o favor.
Nesta terça-feira, há uma reunião em São Paulo da comissão de renovação dos direitos de TV do Campeonato Brasileiro. Nela, deve ficar claro qual será a data da abertura do envelope vencedor da disputa por TV aberta.
O Flamengo e o Sport são campeões brasileiros de 1987. Se você é rubro-negro, carioca ou pernambucano, pode comemorar. Mas não deixe de entender o contexto de cada decisão tomada pela CBF. Elas têm um viés diferente do que você imagina.
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