28.4.11

Um poeta chamado Zé da Luz

Paraibano de Itabaiana, Severino de Andrade Silva, morreu aos 60 anos no Rio de Janeiro, em 1965. Adotou o nome de Zé da Luz para assinar seus versos e cordéis. Sua poesia chegou às feiras, às roças, às beiradas das estradas e às ruas, está na boca do povo, de quem tomou emprestado a voz, para dividi-la em forma de rima e verso.

"Seus poemas têm a cor do Nordeste, o cheiro e o sabor do Nordeste. Às vezes trágico, às vezes humorado, às vezes safado. Quase sempre telúrico como a luz do sol do agreste" (dos editores da Enciclopédia Nordeste).

Abaixo duas das mais conhecidas poesias do Zé da Luz

AS FLÔ DE PUXINANÃ
(Paródia de "As Flô de Gerematáia", de Napoleão Menezes)

Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô, mardição!
Matava quarqué cristão
os oiá déssa minina.

Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!

AI, SE SÊSSE...
(gravada pelo grupo Cordel do Fogo Encantado)

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!

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