9.11.11

Mitos da história de Vitória da Conquista

Praça Barão do Rio Branco
Hoje a cidade de Vitória da Conquista completa 171 anos e a história sobre a povoação da região chamada de Sertão da Ressaca é uma epopeia e tanto. Conta-se que bandeirantes, liderados por João Gonçalves da Costa, travaram lutas com os índios que viviam por aqui até vencê-los, no entanto, há controvérsias... As contestações são frutos da pesquisa realizada pelo professor e historiador Durval Menezes, que as incluiu no livro A Conquista dos Coroneis.

Capa do livro
Aproveitando a ocasião do aniversário da cidade, seguem alguns trechos da obra para que possamos conhecer melhor a história da nossa Conquista. Clique em mais informações e descubra, por exemplo que o português João Gonçalves da Costa era um "negro forro" e que nunca existiu cemitério indígena onde é hoje a Praça Tancredo Neves.

Praça Nove de Novembro: Monumento aos Bandeirantes ao
centro e a Catedral ao fundo.


João da Silva Guimarães: principal desbravador, mas não o primeiro
Existe um equívoco quando dizem que foi João da Silva Guimarães o primeiro bandeirante a chegar a esta região para combater os índios e abrir caminhos para interligar o litoral, o sertão e a capital. João Amaro Maciel Parente, bandeirante paulista, homem valente e destemido, caçador e matador de índios, esteve no Planalto da Conquista muitos anos antes da chegada do bandeirante João da Silva Guimarães. João Amaro foi, nesta região, o primeiro a combater, matar e aprisionar índios mongoió e pataxó. Também foi ele quem abriu as primeiras trilhas de acesso ao Sertão da Ressaca. Como recompensa por esses e outros serviços, recebeu da Coroa Portuguesa uma grande sesmaria, que vendeu em 1673, e retornou para São Paulo.
Mapa da região do Sertão da Ressaca
O bandeirante e mestre de campo João da Silva Guimarães aqui esteve pela primeira vez em 1730, mas, somente em 1734, recebeu ajuda e autorização oficial do rei de Portugal para desbravar o sertão. Na primeira incursão, sofreu terrível derrota. Somente em 1752, veio a obter as primeiras vitórias, mas a conquista do território só foi possível alcançar em 1782 já com a participação do capitão-mor João Gonçalves da Costa. Apesar do domínio territorial e do controle sobre as tribos indígenas, muitos índios continuaram resistindo e periodicamente faziam ataques aos fazendeiros. Essas agressividades indígenas em defesa de suas terras persistiram até 1932.

Considerando que, na época dos bandeirantes, prevalecia a hierarquia e que o capitão-mor João Gonçalves da Costa era subordinado ao chefe da bandeira, o mestre-de-campo João da Silva Guimarães, conclui-se que foi, de fato, João Amaro Maciel Parente quem desvirginou essa região; João da Silva Guimarães quem a desbravou, e João Gonçalves da Costa o conquistador e fundador do primeiro povoado do Sertão da Ressaca.

Muitos historiadores, jornalistas e professores foram induzidos ao erro ao afirmarem que João da Silva Guimarães era sogro de João Gonçalves da Costa. Hoje, já se sabe que o verdadeiro sogro de João Gonçalves da Costa era Mathias João da Costa, um português nascido na região de Travassos do Rio Mourilhe. Era um homem muito rico, com muitas terras no norte de Minas Gerais e várias fazendas na região da Chapada Diamantina, principalmente em Rio de Contas. Era casado com Clara Gonçalves da Costa e tinha onze filhos. A sua filha Josefa Gonçalves da Costa, a caçula, casou-se com João Gonçalves da Costa, quando este tinha mais de vinte anos, e ela, apenas nove anos de idade.

João Gonçalves da Costa era negro
Pintura encomendada representa um
João Gonçalves mulato com traços de branco
João Gonçalves da Costa nasceu por volta de 1719 e morreu em 1819 com quase cem anos de idade. Sabe-se que veio da cidade de Chaves, região de Trás-os-Montes em Portugal. Comenta-se que chegou ao Brasil com 16 anos de idade. Residiu inicialmente em Minas Novas, acompanhou o bandeirante João da Silva Guimarães em diversas excursões inclusive nas explorações do Sertão da Ressaca. Foi agraciado com a carta patente de capitão da Ordem do Terço Henrique Dias, instituição de honraria aos pretos, que lhe fora concedida por André de Melo e Castro, vice-rei do Brasil.

Henrique Dias era negro, tornou-se herói brasileiro nas lutas contra os holandeses em Pernambuco. Também se fez herói na Bahia. Em sua homenagem, foi criado o Terço dos Pretos, denominado Terço Henrique Dias. Os “Terços” eram partes integrantes das Milícias como força auxiliar militar. De acordo com o que escreveu o historiador Caio Prado Júnior, existiam quatro tipos de Regimentos: o primeiro e o segundo eram compostos por homens brancos; o terceiro por pretos forros; e o quarto, por pardos e mulatos. O Regimento Henrique Dias só admitia em sua corporação soldados e oficiais negros. A instituição foi extinta em 1831 para ser substituída pela Guarda Nacional.Está aí uma das provas de que João Gonçalves da Costa era negro e pertencia ao Terceiro Regimento, conhecido como Terço Henrique Dias.

Termos da Patente: “Porquanto se faz preciso em criar de novo o posto de capitão do terço de Henrique Dias, pela presente elejo e nomeio capitão da gente preta que servirá na conquista e descobrimentos do mestre de campo João da Silva Guimarães que Vossa Majestade teve por bem criar de novo na pessoa de João Gonçalves da Costa: PRETO FORRO...”

Não tinha índios na Serra do Periperi
A localização geográfica de Vitória da Conquista com o seu clima de baixa temperatura, principalmente no decorrer da noite, com ventos fortes e úmidos no período da estação do inverno, jamais permitiria a permanência de índios. A temperatura no fim do século XIX e início do século XX, no perímetro urbano de Vitória da Conquista, chegava a atingir 2 ⁰C, condição insuportável para quem andava completamente nu.

Quando o bandeirante João da Silva Guimarães conquistou o Sertão da Ressaca, aqui existiam milhares de índios. Na realidade, os índios não ocupavam as terras que hoje compreendem o perímetro urbano de Conquista, mas, sim, as áreas do seu contorno periférico. Os índios pataxó, mongoió e imboré viviam em áreas de clima quente. Povoavam as matas do Catulé, Marçal, Itambé, Itapetinga, Macarani, Itarantim e toda a região do Vale do Rio Pardo. Também ocupavam as zonas das caatingas e chapadas.

Pintura feita pelo príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, que viajou
pelo Brasil entre 1815 e 1817 e passou pela região de Conquista
Existem vestígios de pinturas rupestres e outras marcas de sua presença em cavernas e rochas localizadas em fazendas situadas nas localidades de Gameleira e Campo Formoso. Foram também encontrados vestígios da existência de índios em Anagé, Ituaçu e Sussuarana. É verdade, também, que os índios aqui transitavam e caçavam no período da estação do verão. A cidade de Vitória da Conquista não é “sitio arqueológico” e, provavelmente, nunca foi habitada por uma tribo indígena.

Nunca existiu cemitério indígena
Sepultamentos aconteciam no interior
e no entorno da primeira igreja
Não procede a informação de que são de origem indígena as ossadas encontradas em frente à Igreja Matriz, na atual Praça Tancredo Neves por ocasião das escavações dos alicerces para construção do Jardim das Borboletas. Existe outra versão! Em 1954, foi eleito prefeito de Vitória da Conquista Edvaldo de Oliveira Flores, político de mente aberta e homem de visão, que não se contentava em ser apenas prefeito de uma cidade que ainda não se destacava no cenário baiano, arquitetou um plano para o crescimento político do município. Inicialmente mandou fazer o projeto de um belíssimo jardim a ser construído na praça principal em frente à Catedral. O prefeito, visando seu nome, divulgou que, durante as escavações para construção do jardim, foram encontradas ossadas de índios sepultados em frente à Catedral.

Centenas de pessoas correram para o local, acreditando que eram dos índios mortos por ocasião do chamado “Banquete da Morte”. Quase toda a imprensa da Bahia divulgou o acontecimento, até mesmo a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. É claro que, em todas as reportagens, constava o nome do prefeito construtor do jardim. Um jornal de Salvador publicou a seguinte manchete: “Vitória da Conquista desenterra o passado e o prefeito constrói o mais belo jardim da Bahia.” O prefeito alcançou o seu objetivo ao eleger-se deputado federal e, anos depois, vice-governador da Bahia, chegando a assumir o governo do estado.

A ossada enterrada em frente à Igreja Matriz nunca foi de restos mortais de índios. Vejamos a explicação: em 4 de novembro do ano de 1858, o Conselho Municipal encaminhou ofício ao governo do estado em que solicitava recursos no valor de um conto de réis para a construção do primeiro cemitério. Estes foram os termos do documento: “... gozando outrora esta Vila de ar puro, tem certo tempo a este desenvolvido enfermidades que pasmam, como sejam as contaminadas febres cataras e outras, pensam-se ser provenientes dos muitos corpos enterrados na Matriz, serem as sepulturas inferiores em número aos óbitos que tem lugar neste município se exumam ainda mesmo depois de enterrados, doze ou quatorze meses depois há cadáveres ainda por decompor-se... o que não se pode evitar porque a não se ter lugar que inteiramente substitua ao em que os restos de seus parentes, ou amigos sejam depositados em lugar carecedor de culto religioso...”

Jardim das Borboletas e a nova Catedral de Nossa Senhora das Vitórias
Como as providências levaram vinte e quatro anos para ser atendidas, as ossadas foram retiradas da igreja para dar lugar a novos sepultamentos, e muitas foram enterradas em covas rasas, umas junto com as outras, na parte externa do prédio, enquanto as dos indigentes e pagãos eram sepultadas em terrenos periféricos. A nova igreja (a atual) foi construída quarenta metros acima do local da primeira, e os restos mortais estavam justamente no local da demolição da antiga. Eis a explicação do porquê de tantas ossadas encontradas nas escavações para construção do Jardim das Borboletas.

Fotos antigas: Arquivo do Museu Regional de Vitória da Conquista

Um comentário:

Anônimo disse...

Amo conquista da minha infância. Nas
fotos antigas, uma cara lembrança,
pois vivi aí até os doze anos. Não
sabem o que é saudade. Hoje estou velho e longe desse lugar amado. Procuro Genélia Santana pessoa
amada..............