4.12.11

A blusa de Valmir

Valmir Henrique e A Blusa Estampada, seu novo livro
Ele se vestiu de escritor para lançar seu novo livro - o sétimo! Primeiro dia do mês de dezembro. Centro de Cultura lotado devido à Conferência Estadual de Cultura que aconteceu em Vitória da Conquista. Não havia vagas para sequer estacionar o carro lá fora. "É bom que vão pensar que o lançamento foi um sucesso", brinca Valmir ao lado de amigos.

Já passava das 19:30, horário marcado para início do lançamento, e Valmir ainda caminhava pra lá e para cá em busca de algo que sequer sabia o que era, parecia confuso, mas logo se encontrava ao cumprimentar mais uma das bonitas garotas que chegavam para lhe prestigiar. O típico galanteio do professor (de física) ao cumprimentar as meninas revela um menino com a missão de seduzir... Quem foi aluno de Valmir, mais especificamente aluna, sabe do que eu estou falando (e não é nada demais) - acho que é apenas uma estratrégia para se manter querido, entre as mulheres, e admirado, entre os homens, enquanto expõe fórmulas e cálculos incompreensíveis no quadro.

A sala da Academia Conquistense de Letras, da qual faz parte, já reunia uma boa quantidade de público quando conversei com ele. Como não pude ficar para a apresentação do livro, pedi que ele me antecipasse algumas palavras sobre a obra "A Blusa Estampada", vencedora do 10º Prêmio Artístico-Literário Professora Zélia Saldanha, promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

"A Blusa Estampada eu comecei a escrever em 1999, dois anos depois de quando cheguei aqui, e conclui em 2009. É uma história narrada por uma mulher, eu me visto de uma mulher, que narra a sua relação quando era criança com o avô. O avô era um deus que recria a humanidade a partir do Nordeste, do olhão quente do sertão. Aquelas coisas que a gente acha piegas do sertão localiza-se para mostrar uma grande afinidade entre avô e neta, ou seja uma cumplicidade entre eles. E ele era um deus que morreu de câncer e ela acompanha esse câncer dele em segredo, só os dois que sabia (alguém já me perguntou: 'mas como um deus morre de câncer?', e eu disse: 'qual o problema? todos os deuses morrem, inclusive o nosso que morreu de porrada'). Os deuses são eternos, mas só depois que morrem e é o caso desse avô que não tem nome e ela chama de vô e voinho. Dentre as coisas que ele criou, como os animais, e os seres humanos, que eram criados nus, mas que, com o tempo, passaram a reclamar e ele resolveu vesti-los. Entre essas vestimentas, um dia ele fez uma blusa tal que a esposa dele gostou. A narradora não conhce a vó e a blusa mal aparece na história, mas ela perpetua-se, não se extingue. São duas coisas grandiosas da obra: a relação de cumplicidade do avô e a Carmen, que é a neta, e essa blusa, que é um mistério".

É um livro para qual público?
"Eu tive uma influencia muito grande de Lygia Bojunga Nunes, por isso considero que é um livro para o público infanto-juvenil mais maduro, é um livro um pouco rebuscada, não que as palavras sejam difícies, todas palavras são simples, mas na construção". 

E o que tem de você nele?
"Nada! Todo livro que eu faço eu não me vejo nele. Inclusive, os que eu gosto, quando eu leio eu passo a chorar, leio diversas vezes porque eu vejo como uma obra de alguém que fez e eu gostei. Eu não me vejo e não me sinto com a capacidade de criar nenhum deles e desde 1990 eu tenho premiações em literatura e todas as coisas que eu faço ainda não me sinto autor. O primeiro conto desse livro, por exemplo, eu não reconhecia como meu: minha namorada encontrou umas páginas manuscristas e pediu para eu ler. Eu gostei logo na primeira frase e não sabia de quem era, e era meu, só que ela levou semanas para me convencer de que aquele era um texto meu. Eu tinha esquecido! Mas ele tem muito haver comigo, pois é um cara muito racional, ele diz que nunca escreveu com tampa de caneta, nunca tirou fotos no espelho de costas e nunca tentou molhar sua sombra nas águas do São Francisco. E eu sou voador desse jeito!".

E como relaciona a física e a literatura?
"Depois de ter lhe machucado bastante, como eu fui seu professor de física, sem esse propósito, claro - porque a gente mata os outrso sem saber-, com sua experiência e sua vivência, desenvolvi uma metodologia, uma aliança entre física e literatura e durante dez anos eu publiquei trabalhos só que eu queria alguma coisa orgânica, algo que eu lesse de fato. Encontrei durante o doutorado o Ilya Prigogine, a teoria dele é de que desde o início das moléculas já existe uma narrativa, então a física se alia de diversas formas à literatura, por isso que eu prôpus um ensino de física e de ciências por meio da literatura, não importa o que você fala de besteira, importa a visão que você tem acerca da ciência para se expressar de forma literária".

Formado em física, com mestrado em ciências nucleares, Valmir concluiu o seu curso em teologia, tendo estudado os dons dos espíritos na caminhada de Paulo por meio de Lucas. Atualmente, o baiano de Paulo Afonso, conquistense desde 1997, é professor e pesquisador da Uesb - onde coloca em prática sua novas táticas, assessor da Pró-reitoria de Extensão e orientador de diversos projetos de pesquisa.

O livro valeu a Valmir Henrique de Araújo uma moção de aplauso, concedida em outubro pelo Conselho Municipal de Educação de Vitória da Conquista - anuncia o site da Prefeitura Municipal.

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