2.7.12

A beleza do contraditório


O Teatro Mágico não está nas grandes mídias, nem tem uma super-gravadora por trás do seu trabalho e está contra a corrente do mercado que transformou a música e a arte em produtos. Eles seguem como artistas independentes e se orgulham disso. E, para isso, tem mais que um motivo: seus shows são repletos de fãs e admiradores e os números que envolem o nome da banda são surpreendentes. Mais de 400 mil CDs e 120 mil cópias de DVDs vendidos em oito anos. Mais de seis milhões de downloads e quase três milhões de visualizações no perfil oficial da banda no YouTube. No Twitter são cerca de 120 mil seguidores e mais de 250 mil curtidores no Facebook.


Pela terceira vez em Vitória da Conquista, a trupe de Osasco fez uma belíssima apresentação no Centro de Convenções Divaldo Franco. Pelo Facebook, quem prestigiou o show festejou mais uma passagem da banda pela cidade. "O melhor show que já fui aqui em Conquista", escreveu Manoela de Oliveira. "Perfeito, define a apresentação da trupe nesta noite", disse Henrique Azevêdo. Felipe Dias saiu inspirado da apresentação: "entre a falta e o excesso, um equilíbrio tão singular quanto um beijo". Já Laís Barros, quer bis: "Adorei, voltem mais vezes".


O Teatro Mágico levou música, teatro e poesia para o palco. A plateia, entusiasmada do início ao fim, cantou em coro com o vocalista Fernando Anitelli sucessos dos três discos do grupo. E o repertório estava afinado entre o público que reconhecia cada canção ainda nos primeiros acordes. Agora, como a banda consegue manter e ganhar público fora dos meios de massa de comunicação? A resposta é simples: a mensagem d'O Teatro Mágico nos chega via internet. É esse o meio que transformou a trupe em uma sociedade de espetáculos, longe da espetacularização.

Durante entrevista coletiva, o vocalista falou sobre o papel da internet para divulgação das artes e sobre a relação da banda com a sociedade do espetáculo, a mídia e as gravadoras.

"A gente tem que se relacionar com o rádio e com a TV de maneira muito clara. Vamos falar do nosso projeto, do nosso trabalho, vamos ocupar esses espaços, mas você não vai ver O Teatro Mágico se jogando dentro de uma banheira de bolinhas procurando um sabonete", esclarece Anitelli. "O Teatro Mágico não surgiu do rádio nem da TV, surgiu da galera, da internet, e daí foi para a grande mídia. A forma como surgiu foi uma maneira para que a gente possa refletir sobre uma outra economia em relação à música digital".

Sobre as músicas, ele disse que "todas têm uma intenção. A ideia é nunca fazer música simplesmente para entreter o público, para ter uma levada legal e um grupo bacana. É fundamental a gente poder politizar, criticar com brasilidade e com música. As músicas têm que ter um porquê, um pra quê, ter moral da história, para não ficar simplesmente no etéreo".

Bastante politizado e consciente do seu papel social enquanto artista, o vocalista ressaltou o papel da internet. "A internet é único recurso que O Teatro Mágico tem hoje em dia. Se não fosse ela, a gente estaria tocando quase nada. O Brasil tem que compreender que para além de ver pornografia depois das dez e fofocar sobre a vida do outro, a internet tem uma funcionalidade importantíssima que é de diálogo e da informação. Isso é revolucionário. Através de uma ferramenta como essa a gente se torna muito mais forte, não só o povo, mas a música, o teatro, a fotografia. A internet não tem prejudicado ninguém, muito pelo contrário, você não é obrigado a ouvir os mesmos artistas, os mesmos rappers, os mesmos cantores de axé... você escolhe o que você quer ouvir, passa a ser um consumidor ativo e não mais passivo".

A forma independente de trabalho do grupo é um motivo de orgulho para o líder da trupe: "A gente encontrou uma maneira de trabalhar diretamente com o público tirando o atravessador cultural. Temos que ter a compreensão de que esta visão romântica e equivocada do sucesso não é bem assim, fazemos um trabalho de formiguinha, conversando com o público. Quando vem uma gravadora de fora, ela tem basicamente o mesmo discurso, 'queremos comprar o projeto de vocês e administrá-los pelos próximos três, quatro anos'. Isso pode significar pegar você e jogar na gaveta, encarecer seu show e uma porção de outras coisas. A gente pode conversar sim, não tem problema nenhum conversar com as gravadoras, mas vamos chegar num comum. A gente sempre falava assim: 'a nossa música pode ser livre? Nosso cd pode custar cinco reais na mão do público?' Respondiam não e não. 'Então, irmão, obrigado. Isso que a gente preza foi formatado pensando no nosso público'. Daí eles falam assim: 'Vocês estão chegando de bicicleta e a gente gostaria que vocês chegassem de Ferrari'. A gente falou: 'A gente assistiu E.T. e a gente acredita que a nossa bicicleta é capaz de voar'".

Divulgada nas redes sociais da banda, a clássica foto no final do show resumiu a apresentação deste 30 de junho: "Muita energia! Esse pessoal da Bahia é arretado demais da conta!"

Um comentário:

Graci disse...

Muito boa sua matéria Chu