10.12.11

#100Camillo: O poeta proletário


A partir de hoje, o Conversa de Balcão homenageará o centenário de Camillo de Jesus Lima, nascido em 08 de setembro de 1912. Até a data do seu aniversário de 100 anos, toda semana uma poesia de sua autoria será postada aqui no blog. Antes de começar, vamos conhecer um pouco sobre o homenageado e "cantemo u'a incelença prá êsse ilustre prufessô". 

Um dia ouvi Ruy Medeiros dizer que o maior poeta do século XX se chama Camilo de Jesus Lima. Em outro, descobri que a música de Elomar Figueira, Incelença Para Um Poeta Morto, foi feita em homenagem a Camilo na ocasião de sua morte. No entanto, se perguntar quem era o homem cujo nome foi dado ao Centro de Cultura de Vitória da Conquista, poucos saberão responder . Talvez muitos até saibam que ele é um famoso poeta, todavia, desconhecem a sua história, quanto mais a sua obra.


Camillo, ao contrário do que muitos imaginam, nasceu em Caetité e não em Vitória da Conquista. Veio morar em Conquista antes de completar seus 20 anos de idade, aqui se tornou poeta, virou jornalista, professor e político. Filho de Esther Fagundes da Silva e do professor e escritor Francisco Fagundes e sobrinho-neto do poeta Plínio de Lima, desde a infância descobrira seu talento para as letras: seu primeiro poema foi publicado no jornal “O Alvorecer”, da cidade de Condeúba, quando ainda tinha nove anos. Falava e escrevia corretamente em inglês, francês e espanhol, além de conhecer bem latim. Segundo ele próprio, teve apenas dois professores: seu pai e a vida. 

Em Conquista, se tornou amigo de intelectuais do campo político, da imprensa e das artes. Laudionor de Andrade Brasil, Erathósthenes Menezes, Clóvis Lima, Iolando Fonseca e Bruno Bacelar de Oliveira são alguns deles. Passou a colaborar com jornais locais e se aproximou dos ideais comunistas, procurando difundi-los pelas linhas que escrevia. Primeiro atuou em "O Combate", com poesias e crônicas. Depois, passou a integrar a equipe dos "O Jornal de Conquista", "O Conquistense", "O Sertanejo" e "A Tarde", este último de Salvador. 

Camillo, de pé ao fundo, na redação de O Combate
Em 1938, ao lado de outros intelectuais, fundou a Ala das Letras de Conquista, sendo o seu primeiro presidente. Neste mesmo ano, foi nomeado, pelo amigo e prefeito Dr. Régis Pacheco, Secretário da Prefeitura Municipal de Conquista, cargo que exerceu até 1945. Depois disso, passa a morar em Macarani, onde exerce as funções de Oficial de Registros de Imóveis e Hipotecas e de onde envia suas contribuições aos jornais de Conquista.

Com o livro “Poemas” venceu mais de 60 concorrentes no prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras, considerando o resultado a maior surpresa de sua vida. Na premiação é anunciado como “o maior poeta moço do Brasil”, na ocasião ele tinha apenas 31 anos. 

Adepto do comunismo, filiado ao Partido Comunista desde 1950, e se declarando poeta proletário, Camillo foi preso pela ditadura em 1964, em Macarani, sendo levado para a capital baiana, onde ficou por quatro meses. Escreveu até a sua morte, em 3 de março de 1975. Camillo de Jesus Lima morreu em Itapetinga, no Hospital Santa Maria, após ter sofrido um acidente dias antes: ao descer de uma Kombi, foi atingido por um ônibus em alta velocidade, arremessado contra o passeio da rua sofreu uma fratura na base do crânio.

Camillo foi casado com Miriam, com quem teve dois filhos, Luiz Carlos e Albion Helênica.

O poeta magro, com óculos de grossa armação, era um pouco gago e muito acanhado. Escrevendo se libertava, "canta pelos oprimidos e seu universo é povoado de famintos, de prostitutas, de retirantes e de revolucionários", como resumiu Zélia Saldanha, em 1987.

OBRA
As Trevas da Noite estão Passando (1941, com Laudionor Brasil)
Poemas (1942)
Viola Quebrada (1945)
Novos Poemas (1945)
Cantigas da Tarde Nevoenta (1955)
A Mão Nevada e Fria da Saudade (1971)
O Livro de Miriam (1973)

OBRA INÉDITA
Rio Abaixo 
Bonecos 
Soçaite em Três Variações
Espinhos e roseiras 
Poemas do Povo 
A Bruxa do Fogão Encerado 
Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo

Recado para a filha

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