24.7.06

Uma TV, uma companhia


Se a gente quiser a gente aprende mesmo ficando parado na esquina, ou apenas atravessando a rua. Mas, é querendo conhecer o outro lado da ponte que se aprende. Conhecer o novo pra mim é sempre uma lição, mas não apenas ouvir falar, conhecer é sentir o que se fala, pois o que dizem por aí não nos garante o que realmente conhecemos sobre algo. Já escrevi sobre isso aqui: o lance é sentir pra poder dizer.

Nunca tinha ido a um asilo, dia desses fui convidado a visitar um, aceitei e fui.

É um lugar para nós, jovens e saudáveis, pararmos para pesar sobre o sentido da vida, sobre o valor da família, sobre a fragilidade dos nossos sentimentos, sobre a amizade, sobre o amor, sobre a caridade, a espiritualidade, o aprendizado, a vida e a morte. É um lugar de ensinamentos, você nem precisa conversar com alguém ou esperar que te digam algo, é imediato, os pensamentos vem e ficam na sua cabeça, as idéias não passam apenas, elas marcam, rondam nossas cabeças e bagunçam os nossos bonitinhos e organizados pensamentos.

Fui falar com um senhor que estava em um dos quartos sentado em uma cadeira de rodas à frente da televisão, que passava algum jogo da copa. Comecei a conversar com ele, mas ele não me ouvia muito bem. Falamos sobre a copa, sobre o Brasil, sobre a cidade que ele morava, e por fim ele me soltou uma pergunta que mexeu demais comigo, apontando para a televisão ele quis saber se onde eu morava tinha televisão... Para muitos, isso pode ser apenas um devaneio de pessoas da idade dele, para mim não, já que ele se demonstrava lúcido.

Vi naquele gesto do senhor um gesto de carinho e preocupação comigo, tenho que dizer o porquê. Esse senhor, quando sua esposa faleceu, já estava bem doente e passou a morar sozinho e em sua casa, que não tinha televisão. Quando veio para o asilo que o senhor descobriu aquela caixa de som e imagem, e em um asilo uma pessoa na situação como ele só tem como companhia os enfermeiros, médicos e as pessoas que trabalham lá... Nem mesmo os outros habitantes do asilo encontram-se em situações para ser companhia um do outro ali. Restou para aquele senhor a televisão, sua companheira, o que não o deixava sentir sozinho, situação conhecida e vivida por ele. E o pouco tempo que estive ali, ele se preocupa comigo. Queria saber se eu tinha uma companhia, se eu era uma pessoa sozinha, ou se eu tinha uma televisão...

Aquilo me tocou muito, e de imediato sentir a fragilidade daquelas pessoas e o quanto faz bem a elas a visita de pessoas novas, que por algum momento assume o papel que a televisão tem para aquele senhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

OLHA, GOSTEI MT DESSE TEXTO, VIU? SEMPRE Q PUDER VOU VIR AKI!