2.10.10

Dilma: a escolhida de Lula

Dilma Vana Rousseff (PT)
62 anos, nascida em Belo Horizonte (MG), divorciada e graduada em Economia.
Coligação Para o Brasil Seguir Mudando (PRB / PDT / PT / PMDB / PTN / PSC / PR / PTC / PSB / PCdoB); Vice: Michel Temer (PMDB)
Limite para gastos em campanha: R$ 157 milhões
Declaração de bens: R$ 1.066.347,47
Site oficial: www.dilma13.com.br

Segunda filha do imigrante búlgaro Pedro Rousseff e da professora Dilma Jane da Silva, a candidata do Partido dos Trabalhadores foi escolhida pelo presidente Lula para dar continuidade ao projeto iniciado em 2003. Para ela essa continuidade significa manutenção e avanço. Sem experiência eleitoral, Dilma está na política desde sua juventude, quando lutou contra a ditadura militar dentro de movimentos organizados. Entrou em 1965 na Escola Central, um centro de agitação do movimento secundarista, e dois anos depois já militava na Política Operária (conhecida como Polop), criada pelo Partido Socialista Brasileiro em 61 e que, após uma crise, se dividiu, e de lá militantes formaram o Comando de Libertação Nacional (o Colina). Seus integrantes tinham como prioridade a luta armada, entre eles estava Dilma. No Rio de Janeiro, o grupo se uniu à Vanguarda Popular Revolucionária, organização liderada por Carlos Lamarca. A fusão deu origem à Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares.

Após uma ação do novo grupo, Dilma foi presa em São Paulo, em 1970. Sofreu com a tortura durante os três anos que ficou na cadeia. Saiu de lá dez quilos mais magra, aos 25 anos. Do Presídio Tiradentes partiu para uma temporada em Minas Gerais, onde se recuperaria com a família. Logo depois, foi para Porto Alegre, morar com os pais do seu segundo marido, Carlos Araújo, que estava detido no presídio da ilha das Pedras Brancas. "Lutei contra a ditadura em nome da liberdade e democracia. Há um debate natural sobre aquele período e sobre minha participação, inclusive com abordagem fantasiosa. Muitas pessoas não sabem o que significou a ditadura", disse a candidata em entrevista à Rolling Stone Brasil. Araújo saiu da prisão em 1974, Dilma se preparava para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Estagiou na Fundação de Economia e Estatísticas, do governo gaúcho. Retornou à militância política pelo Instituto de Estudos Políticos e Sociais, mantido pelo MDB de Pedro Simon. Dilma concluiu seu curso de ciências econômicas em 1977. No mesmo ano, nasceu a filha do casal, Paula Rousseff Araújo. Os pais de Paula participaram da reconstrução do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Quando a sigla passou para Ivete Vargas, entraram para o PDT de Brizola. Demitida da FEE por ter seu nome numa lista do general Sylvio Frota, que apontava os funcionários subversivos que estavam infiltrados na máquina pública. Na metade dos anos 80, Dilma assumiu a assessoria da bancada do PDT na Assembleia Legislativa gaúcha. O seu primeiro cargo executivo foi no governo de Alceu Collares, quando a nomeou para a secretaria municipal da Fazenda. Em 89, tornou-se diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre. Eleito governador, Collares nomeou Dilma como presidente da FEE, onde ficou até o fim de 93. Então foi nomeada para a Secretaria Estadual de Energia, Minas e Comunicações, onde ficou até o fim de 94. Com o fim do governo, voltou para a FEE.

Em 1998, Olívio Dutra foi eleito governador pelo PDT e levou Dilma para a Secretaria de Energia, por onde ela já havia passado. Com a proximidade das eleições municipais de 2000, Brizola queria Collares como candidato e o PT, Tarso Genro. Dilma se posicionou a favor de Tarso, defendendo a continuidade da aliança que elegeu Dutra. Os dois partidos concorreram e Tarso foi eleito. Dilma, então, se filia ao PT. No fim de 2001, eleito presidente, Lula analisava os nomes que indicaria para assumir os ministérios do seu governo. Para Minas e Energia, a decisão demorou a ser anunciada. Mas, a simpatia de Antonio Palocci pela secretária do governo gaúcho peso. Dilma assumiu o ministério e fez o essencial. Cumpriu contratos do governo anterior, evitou um novo apagão e construiu um modelo para o setor elétrico menos estatizante.

A coragem para enfrentar situações difíceis e a capacidade técnica da ministra fizeram dela a menina dos olhos do presidente Lula, que a chama carinhosamente de Dilminha. A saída dos ministros Antonio Pallocci, da Fazenda, e de José Dirceu, da Casa Civil, levaram Dilma a hanhar mais poder. Lula a nomeou chefe da Casa Civil. O que ele queria com isso era dar uma cara mais técnica a Casa Civil, mais gerencial e menos política. Dilma, que não é uma petista orgânica, não cogitava suceder o presidente como Pallocci e Dirceu.

Dilma passou a se reunir praticamente todos os dias com o presidente, até feriados e finais de semana. As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deram à ministra a imagem de "fazedora" e boa gerente. O que ela fazia era chamar ministro por ministro, vê os projetos de cada um, o que estava emperrando as ações do governo e sair destravando.

A boa atuação de Dilma e as viagens com Lula pelo Brasil colocaram o nome da ministra entre os possíveis candidatos para sucessão presidencial. Eleita pelo presidente de maior popularidade da história do país, o desafio foi aceito pela mineira que chegou de mansinho no governo petista. Nem a descoberta de um câncer linfático, nas vésperas do anúncio de sua pré-candidatura, tirou a ministra do jogo. Manteve ao máximo o diagnóstico em segredo e manteve o ritmo de trabalho até ser submetida a uma cirurgia. Já considerada curada, fez sessões de quimioterapia e radioterapia para que o câncer não voltasse.

A candidata do PT faz sua campanha com base no continuísmo. "Vamos continuar trabalhando", talvez seja essa a frase mais dita por Dilma durante a apresentação de suas propostas para o Brasil. Valendo-se da estabilidade econômica garantida pelo país, dos avanços nas áreas sociais, dos projetos tocados pelo PAC, das casas populares do Minha Casa, Minha Vida e, claro, da excelente imagem do presidente Lula, a candidata se apresenta como co-autora das conquistas do governo e não trouxe um projeto novo. Apenas garante que o Brasil irá, no seu governo, continuar avançando e se transformando.

Algumas declarações da candidata:
"É preciso resgatar a confiança no futuro, sublinhar a importância que faz ter um governo sério e sensível às grandes demandas da sociedade"
"Acredito no valor da liberdade de expressão e no valor da liberdade de informação. Um dos grandes méritos de uma democracia é ter a imprensa livre"
"Todos os nomes e partidos com os quais estamos aliados apostam num projeto de continuidade da mudança iniciada nos últimos anos. Assim devem ser as alianças políticas"
"Sou contra a legalização das drogas. A sociedade não está preparada para uma mudança dessa natureza"
"É possível fazer política e passar incólume pelo assunto corrupção"
"Não tenho experiência eleitoral, mas durante minha vida inteira fiz política, respirei política e aprendi a ter sensibilidade política"
"Tenho certeza que o presidente Lula participará do sucesso do meu governo porque ele construiu as bases para eu concorrer"
"Um governo exige diálogo, diversidade e respeito por quem pensa diferente"

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