2.10.10

Serra: a persistência dos tucanos

José Serra (PSDB)
68 anos, nascido em São Paulo (SP), casado e graduado em Economia.
Coligação O Brasil Pode Mais (PTB / PPS / DEM / PMN / PSDB / PT do B); Vice: Índio da Costa (DEM)
Limite para gastos em campanha: R$ 180 milhões
Declaração de bens: R$ 1.421.254,87
Site oficial: www.serra45.com.br

Há quase oito anos o PSDB deixou a presidência da República para dar lugar ao Lula, na eleição seguinte foi o principal adversário do metalúrgico, com o candidato Geraldo Alckmin. Agora, os tucanos voltam a insistir com o retorno ao Palácio do Planalto com o candidato que fora derrotado por Lula em 2002, o governador paulista José Serra. Filho único, de família de imigrantes italianos, morava na Mooca. Francesco, seu pai, quis que o filho o ajudasse no Mercado Municipal da Cantareira, onde vendia frutas, a mãe, Serafina, insistia para que ele só estudasse. Ainda na adolescência, os moleques da vizinhança se referiam a Serra como aquele que quer ser presidente do Brasil. Andava com livros e, ao mesmo tempo, era um galanteador. Frequentava as matinês dançantes do Clube Americano e só namorava meninas bonitas. Chegou a ser ator amador na universidade e trabalhou numa peça de José Celso Martinez. Cursou engenharia civil na USP. Ingressou no movimento estudantil, foi eleito para presidir a União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Foi um dos fundadores da Ação Popular e, em 1963, se tornou presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em 13 de março de 1964, no famoso comício da Central do Brasil, onde Jango defendeu as reformas de base, Serra, então com 21 anos, foi o mais jovem a discursar. O comício foi considerado pelos conservadores uma provocação e visto como um momento-chave de radicalização do governo, ajudando na junção de forças políticas, sociais e militares para derrubar Jango. Consumado o golpe militar e o incêndio da sede da UNE pelos militares, Serra tratou de se esconder por alguns dias na casa de amigos, sem contato nem mesmo com a família. Pediu exílio à embaixada boliviana e partiu para a Bolívia, depois para a França, onde permaneceu até 1965. Por causa do exílio, interrompeu os estudos, não completando o curso de engenharia. Retornou clandestinamente ao Brasil, mas perseguido, teve que sair novamente do país. Radicou-se no Chile, participando de ações políticas para denunciar a repressão no Brasil junto de outros exilados. Permaneceu no Chile por oito anos, vivendo carreira acadêmica até 1973. Trabalhou ao lado de Fernando Henrique Cardoso e Maria da Conceição Tavares. Casou-se em 1967 com a psicóloga e bailarina Sylvia Mónica Allende Ledezma, com quem teve dois filhos, Verônica, nascida em 1969, e Luciano, em 1973, meses antes do golpe de estado naquele país.

Serra chegou a prestar assessoria ao governo de Allende por alguns meses. Decretado o golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, em setembro de 1973, Serra ajudou a transportar vários perseguidos à embaixada do Panamá. Foi preso no aeroporto quando tentava deixar o país com a família, sendo levado ao Estádio Nacional, onde muitos foram torturados e mortos. Um major que o libertou foi posteriormente fuzilado. Serra refugiou-se na embaixada da Itália, ficando como exilado político por oito meses aguardando um salvo-conduto. Partiu depois para os Estados Unidos.

Voltou para o Brasil em 1978. Se tornou professor na Universidade de Campinas. Em 1983, voltou para a política. Assumiu a Secretaria de Planejamento do governo de São Paulo. Em seguida elegeu-se deputado. Na Constituinte, sua imagem de político de direita se consolidou por ter sido contra a nacionalização dos bancos estrangeiros e a limitação dos juros. Foi reeleito deputado e depois senador. Nomeado ministro do Planejamento no primeiro mandato de Fernando Henrique - um ministro de pouca expressão, foi contra o Plano Real e, mesmo após o controle da inflação, continuou divergindo da equipe econômica de FHC. Resistiu a aceitar o convite para assumir o ministério da Saúde. No entanto, esse é o seu maior dividendo eleitoral. Serra é lembrado como o ministro dos genéricos. O mesmo que conseguiu diminuir o preço do coquetel de medicamentos contra a Aids e que proibiu a propaganda de cigarro na televisão.

Derrotado no primeiro turno por Lula, em 2001, Serra candidatou-se em 2003 a prefeito de São Paulo e renunciou ao cargo para se candidatar ao governo de São Paulo. Eleito governador em primeiro turno, em outubro de 2006, Serra implantou no Estado vários dos projetos iniciados na prefeitura: obras e melhorias no metrô, programas na área da saúde e na educação, como o Mãe Paulistana e o Ler e Escrever.

Com base nesse currículo, destacando os feitos como ministro, prefeito e governador, José Serra se coloca como candidato a presidente mais uma vez. Como oposição, sua crítica não é tão severa, afinal colocar-se contrário ao governo Lula é bater de frente com a opinião pública que aprova o governo com avaliação nunca vista. As críticas de Serra são pontuais, ele garante que o Brasil pode mais e que ele pode fazer isso pelo país. Defende sua candidatura prometendo aumentar o salário mínimo para R$ 600 logo no início do mandato, implantar 400 km de metrô em cidades com mais de 500 mil habitantes e levar os projetos que deram certo em São Paulo para todo o Brasil. Há quem diga que os tucanos já foram mais oposicionistas. No entanto, o candidato parece caminhar com as próprias pernas em busca de um objetivo particular, não colocou FHC na propaganda eleitoral e confessou que sempre sonhou em chegar à presidência, mas não à sombra de ninguém - justificou e atacou ao mesmo tempo. Quem sabe, ele consegue dessa vez...

Algumas declarações do candidato:
"Hoje, a UNE é totalmente aparelhada. Acabou, é uma entidade que não representa os estudantes porque os estudantes não querem ser manipulados - mesmo quem não é politizado"
"Quando chegou ao poder quem governou foi outro PT: conservador em matéria de política econômico-financeira, não tem nada de esquerda"
"Aqui em São Paulo a área que mais expandiu foi a cultura, o orçamento aumentou três vezes em quatro anos"
"Sou contra a legalização da maconha porque, na prática, nas condições do Brasil hoje abre um caminho para outras áreas de relações. Não sou contra que se debata, mas não estar nos meus planos tomar alguma iniciativa"
"Cada governo que entra pega o que o governo anterior fez, se tiver um mínimo de responsabilidade, aquilo que merece permanecer, permanece e pode ser melhorado"
"O governo Lula foi uma continuidade do governo Fernando Henrique"
"Tem que parar de uma vez com essa privatização do Estado, privatização dos órgãos governamentais, não é privatização de vender para área privada, é continuar estatal e entregar para pessoas e partidos para tirarem proveito. Nunca houve uma privatização no mau sentido do Estado como agora"

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