Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
No dia do Jornalista, o 7 de abril de 2011, o Brasil foi apresentado a uma das mais chocantes formas de violência, até então uma notícia que vinha apenas do estrangeiro.
Quando o jovem Wellington Menezes de Oliveira promovia um massacre na escola municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, o Brasil perdia um pouco de sua inocência.
Ao longo de todo o dia, jornalistas, psicólogos, especialistas em segurança e outros pensadores tentavam entender como aquilo tinha sido possível. A notícia parecia chocante demais, inesperada e inaceitável até para os padrões dos programas policialescos da televisão. A exibição de vídeos amadores tornava ainda mais dramáticos os relatos do horror.
Tentativas de explicação
Nesta sexta-feira (8/4), os jornais tentam fazer algumas ponderações. Uma delas: o assassino certamente sofreu com o "bullying" quando adolescente.
Segundo a Folha de S.Paulo, um ex-colega, Diego Peterson, conta que ele era chamado de "retardado". "Mas eram brincadeiras inocentes", explica Peterson.
Não eram inocentes para Wellington.
Em algum momento sua mente conturbada entendeu que a origem de seus sofrimentos estava naquela escola. O que se seguiu extrapola os limites da razão.
Essas e outras interpretações percorrem as descrições dos comentaristas convidados pela imprensa a explicar à sociedade o que se passou ali.
Mas não há explicações simples.
Acordando debates
O Estado de S.Paulo tira uma conclusão enviesada: "o caso reacendeu a discussão sobre segurança nas escolas".
Errado. Quem acende discussões é a imprensa, e trata-se de muito mais do que colocar policiais armados perto dos estabelecimentos de ensino. Essa é uma prática comum nas grandes cidades brasileiras, que no entanto não impede brigas, ações de traficantes e outras violações dos direitos de crianças e adolescentes.
O centro da questão foi apontado pelo presidente do Senado, José Sarney, que citou o referendo de 2005, quando 62% da população, sob propaganda intensa de jornalistas, parlamentares e lobistas a serviço da indústria de armas e munições, votaram contra o banimento das armas de fogo no País.
O assassino do Realengo tinha duas armas e balas para matar uma centena de crianças.
Onde se escondem aqueles que se mobilizaram para que a venda de armas continuasse praticamente sem impedimentos no Brasil?
Ou vão dizer que o assassino era apenas um louco?
Na ocasião, a revista Veja e alguns de seus mais destacados colunistas defenderam a bancada da bala. Que sentido tem agora cada sentença da reportagem da revista sobre a tragédia do Rio?
O governo anuncia uma nova política de desarmamento.
Vamos ver como a imprensa vai tratar o assunto daqui para a frente.
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