5.5.12

A hora e a vez da juventude


Há poucos dias, Vitória da Conquista poderia ser confundida como a "terra do sol" que está em um dos principais títulos de Glauber Rocha. No entanto, quem veio para a cidade por conta do Festival da Juventude, encontrou nessa sexta, 4, o famoso frio conquistense, com direito a uma fina garoa. A programação teve início à tarde com palestra de Leonardo Boff e Albino Rubim. À noite, na praça Barão do Rio Branco, o palco foi dos artistas locais Achiles Neto e da banda Ladrões de Vinil e do grupo soteropolitano Vendo 147, que recebeu Nina Becker, Lucas Santtana e Pepeu Gomes.

O primeiro dia do Festival, que vai até este domingo, 6, mostrou a que veio. Até então, os eventos musicais promovidos pela prefeitura municipal visavam a diversidade do público, atraindo famílias inteiras para a praça pública (não que este também não possa atrair...). Este ano, a cidade ganhou um focado na juventude, oferecendo diversas atividades culturais, como também espaços para o debate, permitindo a construção de pensamentos, o questionamento e a reflexão. Tudo que a juventude quer... Ou não.

Talvez muitos jovens, apesar de enfiados quase que 24 horas na internet, não saibam quem são Leonardo Boff, Lucas Santtana, Nina Becker, Tom Zé, Pepeu Gomes... Não estão interessados em descobrir o novo ou redescobrir o velho. Não se permitem viver novas sensações nem experimentar o experimental, como dizia Wally Salomão. Ficam alimentando e sendo alimentados pela cultura massificada, confundindo-se entre produtos superficiais e poucos significantes. Rindo de virais, aprendendo dançinhas e refrãos da moda e compartilhando conteúdos sem qualquer conteúdo nas redes sociais.

Antes de qualquer pré-julgamento, o Festival da Juventude se justifica. De acordo o Censo 2010, Vitória da Conquista tem cerca de 14% de sua população formada por pessoas com idade entre 15 e 29 anos e poucos espaços além-shopping que atraem essa parcela. Mas, eu esperava, apesar da garoa que deu cara de inverno à cidade, uma praça lotada de jovens sedentos por qualidade musical, prestigiando artistas da cidade e nomes consagrados dentro da música brasileira, como é o caso de Pepeu Gomes, um dos maiores guitarristas do país. Infelizmente, não foi o que eu vi. Pelo contrário, foi decepcionante ver jovens se esmurrando e rolando pelo chão a chutes e pontas-pé. Que juventude é essa? É ela a responsável pelas mudanças que a sociedade espera? Se for, continuaremos na espera.

Esta é a primeira edição do Festival e ontem foi apenas o primeiro dia. Que essa minha impressão seja desfeita a partir de hoje e que os jovens não me decepcionem. Ocupem a praça e comemorem um evento que prestigia a sua inquietude e o seu espírito revolto. Espero ainda que o Festival entre para o calendário de eventos da cidade, servindo como alicerce para um novo público e uma nova consciência. Além, é claro, de continuar a atender às expectativas do público que reconhece a boa música, seja ela nova ou velha, daqui ou de outro lugar, que tenha aparecido na mídia ou não. Esse público existe de fato e estava lá aplaudindo os que subiram ao palco e vaiando os que estragaram a festa.

A responsabilidade de sustentar a ideia do Festival da Juventude e de transformar a realidade sócio-cultural da nossa cidade é dessa parcela consciente da juventude e, como diz o refrão muito cantado por outros jovens e em outra época, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Portanto, façamos desse evento a hora e a vez da juventude conquistense.

Abaixo, fotos da noite de abertura.
Achiles Neto
Ladrões de Vinil
Vendo 147 e Nina Becker
Lucas Santtana
Só para lembrar, logo mais à noite tem o até hoje tropicalista Tom Zé na praça. Programação completa no site oficial.

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